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A atleta Rebeca Gusmão, 24 anos, tenta se reerguer depois de ser banida definitivamente da natação por uso de doping. A ex-nadadora batalha sozinha para provar sua inocência, uma vez que seus companheiros de piscina não saíram em sua defesa durante a saraivada de críticas que sofreu. Ela busca a redenção bem distante das águas onde viveu momentos de glória e de dor. São nas quatro linhas de um campo de futebol que a jovem esportista tenta reverter o jogo a seu favor. Ela não desistiu de nadar e está confiante no resultado da apelação contra a sua expulsão do esporte, mas mergulhou de cabeça no futuro como boleira. São treinos diários, das 18h às 20h, no time da Associação do Cooperativismo de Brasília (Ascoop) e das 22h às 0h, na seleção do Centro de Ensino Unificado de Brasília (Ceub). A agenda atribulada é parte da preparação para o campeonato da Liga Nacional, que ocorre em dezembro.
O novo esporte não é um desconhecido para ela. Rebeca começou a nadar aos seis anos, em Brasília e, um ano mais tarde, entrou no time de futebol do colégio. Mas a atleta teve que escolher uma das duas modalidades logo cedo. "A natação era a minha prioridade e não pude participar dos jogos nos fins de semana." Durante a adolescência, o futebol se tornou um hobbie, praticado após os treinos da natação e durante os fins de semana. Em 2006, ela começou a jogar com as meninas no Ceub e, neste ano, foi convidada pelo clube para integrar a seleção. A disputa pela atleta agita a comunidade do esporte. Rebeca já foi sondada por dirigentes de outras modalidades para ingressar em equipes de luta livre, arco-e-flecha e rugby. E diz que está aberta para analisar todas as propostas. "Me sinto como um bicho preso na jaula. Quando me soltarem numa competição, ninguém me segura", promete.

No campo, a nadadora foi colocada como atacante por ter uma estrutura de grande porte – 1,78m de altura e 97 quilos – e um chute agressivo. Como é alta, dentro da área pode fazer a diferença com a cabeça em cobranças de falta e escanteios. "Tenho aprendido muito com as meninas do futebol, que têm uma história de vida humilde, muita força e coragem para enfrentar as dificuldades." A Seleção Brasileira de futebol, segundo ela, será uma agradável conseqüência.
Apesar do momento promissor, a mágoa com a natação continua latente. A ex-nadadora não se conforma com as acusações de doping. Garante que sempre teve um alto nível de testosterona (substância que teria utilizado ilegalmente) no organismo e jura que o aumento da massa muscular foi resultado dos treinos intensos e das horas dedicadas à malhação. Rebeca foi incriminada durante o Campeonato Brasileiro em 2006 e nos jogos Pan-Americanos do Rio em 2007. Perdeu as medalhas, teve os recordes anulados e ficou impedida de competir até 2010, o que a deixou fora da Olimpíada de Pequim. No dia 5 de setembro, a Federação Internacional de Natação (Fina) baniu a atle ta do esporte. Mas ela quer voltar. Seus advogados recorreram à Corte Arbitral do Esporte, instância máxima da justiça esportiva. "Quero competir e provar a minha inocência", afirma. Resta saber quem fica com a atleta: as piscinas ou o campo.