16/02/2005 - 10:00
A escritora e poeta canadense Margaret Atwood é velha conhecida de todos aqueles (bem, principalmente daquelas) que gostam de discutir uma relação. Paralelamente, é famosa por emprestar seu talento e seu nome a causas as mais diversas, que vão do apoio a escritores perseguidos em seus países a vítimas do racismo e da intolerância em todo o mundo. Felizmente, não lança mão do recurso fácil dessas bandeiras, ou pelo menos não de todas, ao compor seus personagens. Ao contrário: com perfis bem delineados, seus homens e mulheres são tratados sem nenhuma condescendência, apenas lançados à crueldade da vida. Mesmo que seus conflitos não mais choquem o leitor, duas décadas e meia depois de escritos eles ainda despertam, no mínimo, a inquietação de quem lê.
Em A vida antes do homem (Rocco, 351 págs., R$ 42), lançado em 1979 e agora reeditado, Atwood joga à fria luz da realidade os dilemas de quatro pessoas – um casal anestesiado pela monotonia familiar, um amante que se suicida e uma mocinha de contornos tênues, cuja maior paixão são os dinossauros. Eles vivem a rotina insossa de classe média intelectualizada, mas insatisfeita com a própria vida. Nada é intenso no perfil dessas pessoas, como se elas tivessem em algum momento da própria história perdido a capacidade de reagir à altura da tragédia. Os amores são chochos, as tristezas são relativas e a tal da vida, tudo indica, é insuportável. Na prática, um grande hino ao desencanto.