17/07/2002 - 10:00
Pesquisadores ingleses e americanos anunciaram a descoberta de uma arma importante contra o HIV, e, o que é melhor, existente dentro do próprio organismo. Trata-se do gene CEM15. Ele impede que o vírus da Aids penetre nas células a as infecte, evitando, dessa forma, a propagação do microorganismo pelo corpo. O trabalho no qual está descrita a função do gene foi divulgado na semana passada pelo site da revista britânica Nature. Os autores do estudo são o professor Michael Malim, do King’s College de Londres, e a equipe da médica Ann Sheehy, da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos.
Na mesma pesquisa que evidenciou o poder do CEM15, os cientistas confirmaram a importância de uma proteína fabricada pelo próprio HIV. Ela consegue impedir a função benéfica do gene. Essa estraga-prazer é conhecida como VIF (fator de infecção viral). Na verdade, os pesquisadores já sabiam, por meio de outros trabalhos, que a VIF é uma das substâncias infectantes utilizadas pelo vírus. “Por isso, resolvemos impedir o funcionamento dessa proteína para ver se encontrávamos alguma novidade e conseguimos”, disse Michael Malim, um dos autores do trabalho, a ISTOÉ. “Quando simulamos em laboratório vírus sem a VIF atacando células normais, percebemos que elas eram capazes de se defender da infecção por meio do CEM15”, explica o estudioso.
A descoberta abre portas para se entender mais uma das artimanhas do HIV e traz a possibilidade de driblar o inimigo com outras opções de tratamento no futuro. “A pesquisa é importante porque pode contribuir para a criação de uma nova classe de medicamentos capazes de neutralizar a função da VIF”, afirma Esper Kállas, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Quem concorda com o especialista é o infectologista Ricardo Diaz, também da Unifesp. “É mais uma arma”, completa. Atualmente, já existem algumas classes de remédios para combater o vírus. Uma delas são as drogas responsáveis por bloquear enzimas que possibilitam a reprodução do microorganismo dentro das células.
Polêmica na tevê
Uma palestra da 14ª Conferência Internacional de Aids, realizada recentemente em Barcelona, repercutiu bastante, apesar de não representar nenhum avanço do ponto de vista científico. O programa infantil Sesame Street – Vila Sésamo, no Brasil – irá incluir um personagem com HIV na versão sul-africana. A previsão é que ele entre na história no final de setembro. A novidade foi anunciada por Joel Schneider, vice-presidente da produtora Sesame Workshop. O personagem ainda não tem nome nem foi desenhado. A maneira como ele irá se contaminar provavelmente será por transmissão sanguínea ou no nascimento. Segundo o produtor, não haverá discussões sobre outras formas de contaminação, como práticas sexuais ou drogas. O objetivo é ajudar a acabar com o preconceito contra a doença e ensinar aos telespectadores do programa na África, entre três e sete anos, que não há problemas em tocar ou abraçar uma pessoa com a doença. A novidade causou alvoroço na tradicional sociedade americana. Representantes do Partido Republicano enviaram uma carta de protesto à rede pública de televisão do país. Eles acreditam que esse tipo de assunto deve ser abordado entre pessoas mais velhas e têm receio de o personagem ser incluído na versão americana.