O século XXI, que até agora se caracterizou como a era da adrenalina, continua pródigo em emoções provocadas pela insensatez. E, coincidentemente, o epicentro desses abalos tem as mesmas coordenadas. Em setembro de 2001, vieram abaixo as duas torres do World Trade Center – símbolo do poderio capitalista –, até então solidamente plantadas no sul da ilha de Manhattan, em Nova York. O terremoto de agora está chacoalhando outro edifício, este também um ícone do capitalismo americano e, da mesma forma, firmemente alicerçado através dos tempos. A Bolsa de Valores de Nova York, que fica em Wall Street a poucos quarteirões de onde antes se localizavam as torres gêmeas, está sob ataque. Só que agora não são aviões pilotados por fanáticos da al-Qaeda.

Esse ataque vem do centro nevrálgico do capitalismo americano: suas grandes corporações, seu vice-presidente da República e o próprio presidente dos Estados Unidos da América. As grandes corporações foram assoladas por um vírus mortal diagnosticado por Alan Greenspan, o presidente do Federal Reserve, como “ganância contagiosa”. Seus executivos, acusados de fraude, colocaram em xeque a credibilidade do mercado de ações em Wall Street. Isso é gravíssimo, mas não é tudo. Também Dick Cheney, o vice-presidente da República, está sob suspeita, e, muito pior, George W. Bush, seu chefe imediato, à maneira de um Richard Nixon, está sendo acusado de usar métodos pouco condizentes com a função que ocupa.

Se o Afeganistão pagou a conta da derrubada das duas torres – apesar de Osama Bin Laden, ao que tudo indica, continuar forte e rijo –, o Iraque que se cuide. Para desviar a atenção de um inevitável impeachment, é muito provável que Bush desembarque, com toda a sua já anedótica insensatez, em território iraquiano.