Bendita idéia essa de colocar a temporada de desfiles de verão no meio das férias. Com tempo de sobra, boa parte das 70 mil pessoas que compareceram à São Paulo Fashion Week curtiram como se estivessem na Disney. Na primeira fila da grife de biquínis Cia. Marítima, Supla dava a senha: “O legal de vir aqui é ver mulher bonita.” Ao lado da mãe, a prefeita Marta Suplicy, o cantor deixou evidente que, na passarela paulistana, mais do qualquer tendência, o que vale é a badalação.

Com 18 mil m2, a tenda do SPFW é armada especialmente para receber celebridades, profissionais de moda e a mídia. Dois restaurantes, uma livraria e 21 estandes, os chamados hospitality centers, oferecem comida e presentes. Mesmo quem não tem nada a ver com o métier, aproveita. A publicitária Fabiana Rodrigues, 22 anos, foi a trabalho e acabou entregando seu rosto aos cuidados do maquiador Carlos Carrasco, contratado pela Nivea Beauté. “Não venho aqui para ver roupas, e sim pelos lançamentos e toda essa mídia em volta”, diz ela. “Até a moda das pessoas comuns se torna interessante.”

Sem convite para os desfiles, Rafaela Vit Slama, 14 anos, a irmã Renata, 12, e o amigo Rafael Seganarchi, 18, passaram várias tardes perambulando pela Bienal. “Isso aqui é um show. Quem não entra não sabe o que está perdendo”, avisou Rafael. Eles enfrentaram a fila de espera da desconhecida Água de Coco, só pelo prazer de entrar. Suas amigas, Déborah Rosenthal, 15, e Carla Schuchmann, 14, preferiram seguir os famosos. Acharam “o máximo” furar o cerco de jornalistas e seguranças e ser fotografadas com Luana Piovani. “Só vamos atrás de gente da tevê. Estilista não tem graça”, argumentou Carla.

O cerco às celebridades é até estimulado na semana fashion. Afinal, elas ajudam a atrair a mídia. Convidado para mais de uma dezena de desfiles, o cantor Otto ria do fato de ser tão bem tratado. “Já estou até de ressaca: é champanhe daqui, foto dali”, brincou. No estande da Samsung, globais como Fernanda Torres e Dalton Vigh recebiam celulares. Até Gisele Bündchen quis um. Na segunda-feira 15, sua equipe ligou avisando que ela iria buscar o seu, modelo com visor colorido e crédito ilimitado às 15h. Às 18h10, quando ela enfim apareceu, recebeu o aparelho e ligou para a mãe em frente aos fotógrafos. “Estava tudo combinado”, explicou Robert Wieselberg, diretor da empresa. “Famosos recebem nossos produtos e as reportagens que eles geram ajudam a divulgá-los.”

Entre pagar R$ 5 por um sanduíche ou R$ 2,50 por um refrigerante, muitos preferiam filar o bufê da DirecTV. Por dia, eram consumidos 1,5 mil sanduíches. O mais curioso é que, na avaliação da empresa, isso é ótimo. “Enquanto comem, as pessoas conhecem meu produto, que é a imagem de tevê”, diz Orlando Daniel, da DirecTV. “Depois vão lembrar da marca e nos procurar.” Indústrias como a Alfa Romeo e a DuPont investiram até R$ 1,5 milhão na São Paulo Fashion Week, com o mesmo objetivo. “Um desfile dura só 20 minutos. Aqui, faço propaganda do começo ao fim do evento”, diz José Padeiro, diretor da Rhodia, vibrando com o sucesso do estande em forma de cinema, criado pelo estilista Alexandre Herchcovitch.