17/07/2002 - 10:00
Mulher e cachaça nem sempre se deram bem. Na verdade, trata-se de um choque de personalidades. Uma é sensível e delicada, a outra, forte e rústica. Mas a eterna desavença pode estar chegando ao fim. Acaba de ser lançada a primeira cachaça do País destinada a elas. Como o nome sugere, a Domina Suave promete seduzir as moças com seu gosto macio. A novidade agitou a Expo Cachaça, o maior evento dedicado à bebida do País, realizado entre os dias 11 e 14 de julho em Belo Horizonte, Minas Gerais.
A Domina, senhora em latim, nasceu do desejo feminino de poder degustar sem receios ou engasgos embaraçantes um produto genuinamente masculino. “Tenho muitas amigas que se interessam por cachaça. Mas achavam as tradicionais muito fortes. Elas vinham me perguntar se não havia um jeito de fazer uma bebida mais leve”, conta Maria da Paz Arruda, que, ao lado do marido, Régis Barros, e do filho Glener, administra a destilaria Pedra do Cedro, em Brumadinho, Grande Belo Horizonte. Após mais de dois anos de pesquisas, Barros conseguiu chegar à fórmula da “marvada” rosa. As caraterísticas tão agradáveis ao paladar feminino se devem a dois fatores. O principal deles é o tempo de armazenamento do produto. O outro é o local onde é acondicionado o líquido dourado. “A Senhora fica três anos descansando em barris de jatobá antes de ser engarrafada. Essa madeira tem a propriedade de dispersar o álcool concentrado e reter a água. Além disso, o jatobá aveluda e ameniza o sabor”, explica Barros. A alquimia deu a Domina um teor alcoólico de 40%. É considerada uma pinga extraleve, de acordo com a classificação do Pró-Cachaça, o programa de qualidade criado pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais.
Com preço médio de R$ 20 a garrafa e previsão de consumo de 1,2 mil unidades até o final do ano, o lançamento etílico deve chegar a São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba e Brasília até o final do mês. Quem já teve a oportunidade de “tomar a cachacinha” aprovou. “Experimentei e gostei. É uma cachaça diferente”, diz a psicóloga Elisabeth Salles Almeida de Moraes, 56 anos, esposa do ministro da Agricultura e Abastecimento, Pratini de Moraes. Até a concorrência foi seduzida pelo encanto da Domina. “Faltava uma bebida assim, gostosa e menos agressiva”, opina Vanda Teixeira Souza Maia, 39 anos, produtora da Monte Alvão. Daqui para a frente, não será de se estranhar que as santas, antes esquecidas nos rituais de balcão, tenham também direito ao seu golinho.