O comandante do Exército, general Gleuber Vieira, acaba de decidir pela redução do horário de funcionamento de diversos quartéis, preservando apenas os destinados às emergências, como os de pára-quedistas, além de adiar a incorporação de reservistas, antecipar a liberação de 44 mil recrutas e reduzir pessoal destinado à guarda do patrimônio público. São medidas drásticas para fazer frente à crise financeira nos quartéis. As Forças Armadas estão no vermelho, com recursos que não cobrem as metas mínimas para 2002 e projetos de interesse estratégico militar e civil ameaçados. A crise se agravou com a suspensão, em maio, de 30% do orçamento, pelo atraso na renovação da Contribuição Provisória de Movimentação Financeira (CPMF), já aprovada pelo Congresso. O orçamento de 2002 previsto para a área militar, incluindo toda a burocracia do Ministério da Defesa, era de R$ 5,2 bilhões, mas os cortes já totalizam R$ 2,2 bilhões.

A Aeronáutica está com bases semi-paralisadas e com meio expediente, inclusive no gabinete do comando da Força. “As restrições orçamentárias atingiram o plano da irresponsabilidade e ameaçam compromissos internacionais e a profissionalização”, disse a ISTOÉ o brigadeiro Sérgio Ferolla, ministro do Superior Tribunal Militar. Para Ferolla, áreas estratégicas como as do projeto nuclear da Marinha, o Arsenal de Marinha, o Instituto Tecnológico da Aeronáutica, o Centro Técnico Aeroespacial e o Instituto Militar de Engenharia “já são atingidas por cortes que afetam a soberania”. Ferolla é enfático: “Não há dúvida de que a política adotada pelo governo deixou o Brasil quebrado, e só faltava dispensar os milhares de recrutas que fazem o serviço militar para ter o que comer e assistência médica.”

Em nota oficial, o comando do Exército afirma que “as crescentes restrições orçamentárias, com vistas à manutenção da estabilidade econômica, vêm, a cada ano, forçando a adoção de rigorosas medidas estruturais de contenção de gastos pela Força Terrestre”. Diante do agravamento da situação das Forças Armadas, o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa da Câmara, deputado Aldo Rebello (PC do B-SP), reuniu-se com o general Gleuber e com o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Baptista. “Os cortes do Orçamento são feitos porque não causam prejuízo eleitoral a certos parlamentares, que não influem na escolha de comandantes militares nem nas promoções de oficiais”, diz o deputado. Ele faz outra crítica: “Há prefeituras que foram contempladas com verbas generosas, por interesses eleitorais, a ponto de o governador cearense Tasso Jereissati (PSDB) estranhar essa ação generosa.” Rebello lembrou que os cortes impostos às Forças Armadas ameaçam compromissos assumidos pelo País, como a manutenção de forças de paz da ONU. A lenta modernização militar realizada nos últimos 30 anos está paralisada. “Estamos no fundo do poço”, disse o brigadeiro Cherubim Rosa Filho, ministro do STM.