17/07/2002 - 10:00
A mania do homem pelos números redondos ou mágicos e sua infatigável capacidade de procurar um sentido místico para cada combinação que se apresentar potencialmente reveladora de qualquer efeméride, seja ela o novo século, seja o final dos tempos, são o ponto de partida para O périplo de Baldassare (Companhia das Letras, 488 págs., R$ 39,50), do autor libanês Amin Maalouf. Mas o misticismo, no caso, é apenas um ponto de partida para a bela história de um homem que sai em busca de um objeto considerado mágico, que, na verdade, encobre a procura de um sentido para a própria vida.
O personagem principal, Baldassare Embriaco, um genovês radicado na cidade oriental de Gibelet (atual Djebail, ao norte de Beirute), comerciante de raridades e livros valiosos, é arremessado a seu périplo ao ganhar e perder, em poucas horas, um raríssimo exemplar de O centésimo nome, obra da qual sempre duvidara da existência e que guardaria o segredo do nome impronunciável de Deus, que daria a seu conhecedor poderes fenomenais. Este acaso, ocorrido às vésperas do advento de 1666, que na época era considerado a data para o fim do mundo, “o ano da Besta”, acaba levando-o por mar e terra às principais cidades da Europa e do Oriente, na tentativa de recuperar o volume tão cobiçado.
No final, a caça ao livro nada mais é que um pretexto para a revolução que se abate sobre sua vida e sua inefável rotina. É quando o já maduro comerciante penosamente descobre, ao longo das difíceis rotas percorridas, que é obrigado a enfrentar paixões, amizades e amores que irão dar nova luz e nova cor à sua existência insossa. Uma existência que, intuitivamente, ele conta dia a dia em forma de diário oculto, surpreendendo-se a cada novidade com sua própria capacidade de viver.