Bom de viver, nem sempre bom de ler, o reencontro entre velhos amigos após longo período de distância é a situação ideal para dar voz a várias correntes de pensamentos e enfoques sobre um mesmo drama. O problema é quando cai no ramerrão das divergências sobre antigas posições políticas e dos relacionamentos mal resolvidos. Na vida real, pode até ser interessante corrigir o passado; na literatura, o mote passa de bom a traiçoeiro num simples virar de página. Aos meus amigos, da consagrada escritora e dramaturga Maria Adelaide Amaral (Globo, 464 págs., R$ 39), oscila entre o tédio e as boas sacadas. Na orelha do livro, Aimar Labacki já adverte que o romance tem prazeres suplementares para quem reconhece nas personagens as pessoas reais.

Um homem se mata e os antigos amigos e colegas de faculdade começam a avisar, uns para os outros, sobre a tragédia. No encontro, todos começam a afundar as mágoas. São claudicantes as passagens nas quais se discute se o marxismo é uma ciência ou uma crença, se há algo de grandioso no suicídio e as referências saudosistas dos anos 70. Em compensação, todas as falas e reflexões de Lúcia – muito possivelmente a própria autora, já que a personagem foi portadora de câncer, assim como Maria Adelaide Amaral – têm vocação para crônica bem escrita. Talvez o equívoco de Aos meus amigos seja se deixar esgarçar em quase 500 páginas. Porque não falta a Maria Adelaide Amaral talento para dissecar a vida através deste reality show em versão literária.