17/07/2002 - 10:00
Numa das inúmeras passagens hilariantes de Os homens preferem as loiras – comédia musical de 1953, dirigida por Howard Hawks, que transformou a atriz Marilyn Monroe na mulher mais desejada do planeta –, a morena Jane Russell, enciumada com o poder de sedução da colega, lança-lhe a pergunta ressentida: “O que você usa no batom? Anestésico?” Pouco antes de se casar com a bombshell e ainda embriagado pelo seu feitiço, o campeão de basebol Joe DiMaggio fez a mesma pergunta ao maquiador particular da estrela, Whitey Snyder. A resposta veio cheia de mistérios. “Ela usa um tipo muito especial de batom, uma mistura secreta de três tons diferentes. O brilho vem de outra fórmula secreta composta de vaselina e cera”, informou o esteticista.
O charme da atriz, contudo, também residia nas deliciosas tontices que saíam daquela boca molhada e carmim. “Sabe com quem eu adoraria me casar?”, perguntou ela à amiga Betty Grable em Como agarrar um milionário. “Com um Rockfeller.” “Qual deles?”, devolve Betty. “Ah, tanto faz.” Estas e outras tiradas maliciosas do maior mito de Hollywood estarão novamente ao alcance dos olhos e ouvidos com o lançamento em DVD da Coleção Diamante Marilyn Monroe, lançada para lembrar os 40 anos de morte da atriz, ocorrida em 5 de agosto de 1962. São duas caixas com seis filmes cada uma (preço sugerido de RS 177,90), trazendo, além dos clássicos citados, Quanto mais quente melhor, O pecado mora ao lado – que reserva a antológica sequência em que seu vestido é levantado pelo vento do respirador do metrô –, Nunca fui santa e Os desajustados, entre outros.
Marilyn tinha 36 anos quando foi encontrada morta em sua casa em Los Angeles, vítima de uma overdose de calmantes. Embora abarque apenas um terço de sua filmografia de 30 filmes, o pacote da 20th Century Fox centrou-se nos títulos fundamentais, sem esquecer de obras menos badaladas como o drama Almas desesperadas (1952), de Roy Ward Baker, no qual seduz Richard Widmark como uma babá neurótica; o romance Torrentes de paixão (1953), dirigido por Henry Hathaway, em que trama com o marido o assassinato de um amante; e o faroeste O rio das almas perdidas, no qual faz par com Robert Mitchum sob a batuta de Otto Preminger. Mas era nas comédias, especialmente as musicais, que Marilyn encantava com sua presença desconcertante, embora nunca estivesse segura deste poder.
Sua preocupação fazia sentido. Virou lenda em Hollywood a dificuldade de Marilyn em memorizar os diálogos mais simples, especialmente no final da vida, quando, separada do terceiro marido, o escritor Arthur Miller, se viciou no coquetel de champanhe com calmantes. A tortura chegaria ao ápice em Something’s got to give, filme inacabado da atriz, uma produção tumultuada que provocou sua demissão da Fox e uma crise que a levaria à morte. Cenas de bastidores estão no documentário Marilyn Monroe: o fim dos dias (2001), de Patty Ivins, oferecido como brinde no primeiro pacote da coleção. Mostra as filmagens da famosa cena em que Marilyn nada nua na piscina. Mestre em marketing pessoal, a atriz convidou todos os fotógrafos famosos da meca do cinema para documentar o fato. “Isto é para tirar Elizabeth Taylor das capas das revistas”, afirmou. A alegria durou pouco. Quase três meses depois, ela seria novamente notícia, mas em circunstâncias bem mais trágicas.