Uma das tradições milenares da sociedade japonesa tem características sociais e culturais que resistiram, com poucas mudanças, durante séculos. Não é de estranhar que a monarquia do Japão seja a mais longeva e antiga do mundo. Para se ter uma idéia, a linhagem herdeira do Trono de Crisântemo teve início há mais de 2.500 anos e o atual imperador, Akihito, é o de número 125. Dessa forma, os japoneses reverenciam seus rituais e têm enorme respeito às tradições do país. Exatamente por isso, o traje japonês por excelência é o quimono (que, para ser usado, requer um complexo ritual que pode levar quase uma hora). Com toda a bagagem histórica que carrega, essa roupa típica japonesa sempre foi elaborada com extremo esmero. Isso significa horas de trabalho de tingidores experientes, que pintam os desenhos à mão, em um caro processo artesanal. Mas, em tempos modernos, nem mesmo essa secular vestimenta resistiu ao apelo do avanço tecnológico. Agora, a vez é dos quimonos digitais, que usam modernos recursos em sua fabricação, como computadores e impressoras a jato de tinta.

Uma das pioneiras nesse processo foi Yuko Ywakuma, que, com seu computador Apple em mãos, substituiu as tradicionais estampas de pássaros e flores por arranjos mais pop, como notas musicais e reis e valetes das cartas de baralho. “Acho que o quimono digital é uma nova revolução na indústria. Entre os jovens japoneses de hoje em dia é fashion ter um quimono para usar em festas”, afirmou Yuko a ISTOÉ, por e-mail, diretamente de seu escritório em Tóquio. Nesse processo “digital”, os desenhos são elaborados no computador e impressos com jato de tinta diretamente no tecido, que depois passa por outras etapas de tingimento.

Sai bem mais barato: enquanto um quimono confeccionado por especialistas, à mão, no trabalhoso processo com papel estêncil, não sai por menos de US$ 2 mil, o quimono vendido por Yuko pela internet (www.okinu.co.jp) sai por um quarto disso (você, leitor, também pode comprar um, se souber ler em japonês, é claro). Mesmo assim, permite a personalização das estampas, de acordo com o gosto do freguês. Segundo a desenhista, já foram vendidas mais de 500 peças.

Será que o Japão está perdendo sua identidade cultural e símbolos tradicionais, como o quimono, correm o risco de desaparecer? Com a palavra, Ann Waswo, diretora do Instituto de Estudos Japoneses da Universidade de Oxford: “O quimono é um exemplo interessante e revelador. Uma vez um traje universal, agora um traje apenas de cerimônia. Esse processo revela uma característica-chave da cultura japonesa: a adaptação através dos tempos. Isso vem desde tempos antigos. É, de longe, um aspecto muito mais fundamental da cultura japonesa do que o quimono.”