acasatremeu1_76.jpg

O maior teste para cardíacos durante essa crise no mercado financeiro mundial ocorreu na quinta-feira 16. No dia mais tenso desde o início do sobe-e-desce dos mercados na quinta-feira retrasada, o índice da Bolsa de Valores de São Paulo mergulhou aos 8,82% e a cotação do dólar chegou a bater nos R$ 2,14. O volume de negociação foi de R$ 8,4 bilhões, o dobro da média de R$ 4,8 bilhões de julho. O estrago acabou não sendo tão grande no final do dia: a Bovespa fechou negativa em 2,58% e a moeda americana a R$ 2,09. Mas parece que o desfibrilador não poderá ser desligado tão cedo. As Bolsas européias abriram a sexta-feira 17 tensas com a queda de 5,4% no índice japonês Nikkei – a maior desvalorização desde os atentados de 11 de setembro de 2001. Para garantir a liquidez, o Banco do Japão injetou US$ 10,4 bilhões. No Brasil, a notícia de que o Fed (Banco Central dos EUA) reduziu a taxa de desconto para os bancos endividados provocou uma confusão no mercado pela manhã. O dólar operava em queda, tendência seguida pela Bolsa, que chegou a se desvalorizar 2,30%.

O impacto dessa crise talvez seja minimizado pela reserva acumulada de US$ 160 bilhões pelo Brasil, um aumento de 385% sobre US$ 33 bilhões em caixa no ano 2000. É mais confortável passar pela crise com um colchão robusto, sem que isso signifique imunidade. Mas o País não é uma ilha e as conseqüências no mercado interno dependerão dos fatores externos. Principalmente porque, diferentemente das outras crises financeiras recentes, não partiu dos países emergentes o estopim, mas do coração do sistema, os EUA. O representante brasileiro no FMI, Paulo Nogueira Batista, está receoso. “Os supervisores e reguladores bancários e financeiros não estão a par de todos os riscos envolvidos. A situação é preocupante”, alertou.

No Brasil, os primeiros perdedores dessa crise são os fundos de investimento e as Bolsas de Valores. Pelas contas da consultoria Economática, as 316 empresas brasileiras com capital aberto na Bovespa sofreram uma redução de US$ 273,6 bilhões. Essas perdas se explicam pela participação média de 70% de investidores estrangeiros nessas empresas brasileiras. Com a crise, eles vendem seus ativos nos países emergentes, como o Brasil, e buscam posições consideradas mais confortáveis, como os títulos da dívida dos EUA.

acasatremeu2_76.jpg

Com origem na potência americana, o socorro chegou rápido e os bancos centrais da Europa e dos EUA despejaram juntos nada menos que US$ 371,2 bilhões até a quinta-feira 16. Mas o tamanho real do problema escondido no mercado imobiliário de segunda linha dos EUA continua uma incógnita. Sem esse conhecimento, é difícil contabilizar quais são os prejuízos que estão por vir no mercado interno e mundial – as estimativas contabilizam prejuízos de US$ 300 bilhões. A desconfiança sobrou até para o Banco Itaú, que foi obrigado a divulgar uma nota de esclarecimento afirmando que não tem investimentos nesse mercado de alto risco. As 316 empresas brasileiras de capital aberto já perderam US$ 273,6 bilhões. A explicação é que em média 70% dos investidores dessas empresas são estrangeiros.

acasatremeu3_76.jpg

Diferentemente do diagnóstico da equipe do governo brasileiro, o grau de contaminação da economia real é uma interrogação. Ao longo da semana, o ânimo das declarações foram se alterando no ritmo do vai-evem do mercado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, começou com um “não estou nem aí” com a crise internacional, passou para um tom de chacota ao zombar da subida do dólar (“ele também flutua para cima”) e terminou com o sinal de cautela, tentando passar tranqüilidade ao mercado. O câmbio, que flertou com R$ 1,80 há poucas semanas, ultrapassou a linha psicológica dos R$ 2. É um sinal de que as importações ficarão mais caras, com conseqüências que podem chegar à inflação. O risco-Brasil, outro importante termômetro da confiança do mercado internacional com os papéis da dívida interna, está na casa dos 220 pontos-base. A fartura de crédito não deverá ser afetada. O mercado imobiliário brasileiro deve utilizar R$ 15 bilhões para o financiamento de imóveis. “Nosso mercado de crédito é muito pequeno”, diz Alex Agostini, economista- chefe da Austin Rating. “O crédito deve continuar crescendo com taxa de inadimplência estável.”