22/08/2007 - 10:00
Não deve ser só coincidência a cabeleireira Ruddy ter nascido numa cidade chamada Sabinópolis (no interior de Minas Gerais) e ter o sobrenome Pinho. Ruddy é forte como a madeira que acompanha seu nome. Ela nasceu homem, mas preferiu ser uma metamorfose ambulante e enfrentar preconceito e rejeição. “Sou transexual. Aceito as pedradas, como Maria Madalena. Pior é quem me diz que não é feliz.” Sabinópolis não é, certamente, um reduto de gente sabida, mas poderia provocar uma reflexão banal como essa se sua filha famosa estivesse à frente do debate. Ruddy sabe o que quer e segue uma cartilha de sabedoria simples. “Minha irmã me chamou para morar com ela nos Estados Unidos. Eu perguntei: ‘Aí tem pé de pitanga? Tem pé de caju? Então eu não vou’.” Assim, sem stress, ela segue a vida alcançando seus objetivos. Está lançando o oitavo livro, Nem tão bela, nem tão louca (Nova Razão Cultural, 324 págs., R$48) – este de relatos biográficos – e chegou a ganhar um prêmio literário da Biblioteca Nacional, em 1998. “Talento eu sei que tenho”, afirma.
Ruddy reclama de preconceito e se diz alvo até na literatura. “Quando me lancei candidata à vaga de Antônio Houaiss na ABL (em 1999), foi um estardalhaço. Adivinha por quê?” Recentemente, ao registrar o último livro na Biblioteca, outro sinal: “Quiseram me botar numa nova identificação de autores: transexuais. Não aceitei! Por acaso na ficha de Carlos Drummond de Andrade está escrito heterossexual?” Mas ela também inverte os papéis ao justificar seu interesse crescente pela literatura em detrimento da atividade de cabeleireira: “Todas as faxineiras e empregadas domésticas fazem curso de cabeleireiro e abrem salão. Essa profissão não está em alta.” Com 45 anos de salão e especialista em melenas famosas, como as de Suzana Vieira, Ruddy diz que já fez a cabeça de algumas mulheres de presidentes – como Scyla Médici e Yolanda Costa e Silva –, mas não faria a da atual primeira- dama. “Eu recusaria, se me chamassem.” Por quê? “Por patriotismo”, explica. “Estou decepcionada com este país. Espero que 2011 chegue bem rapidinho. Cansei!
Idade indefinida, um filho de criação já casado, Ruddy tem três relações amorosas “sérias” e se diz adepta do poliamor. Não é exatamente contra o casamento, mas tem uma tese peculiar: “Por que me casaria com um homem? Não sei cozinhar nem preciso de ninguém para me sustentar.” Além do mais, ela não quer envelhecer junto com um parceiro. “Nunca fui tocada por um homem com mais de 40 anos. Não suporto, detesto, recuso. Só gosto de jovens.” Ao fim, explica melhor: “O único homem que tinha tudo o que eu queria eu matei; era eu mesmo.” Palavras de Ruddy Pinho, de Sabinópolis.