Assista ao trailer :

xingu_site.jpg


img.jpg
A OUTRA MARGEM
Leonardo (Caio Blat), Orlando (Felipe Camargo)
e Claudio (João Miguel): primeiro contato

De aventureiros desbravadores a defensores de uma grande causa. Assim o diretor Cao Hamburger define a saga dos irmãos Villas Bôas pelo Centro-Oeste brasileiro no filme “Xingu”, que estreia na sexta-feira 6. Ele levou quatro anos e meio para contar a incrível história de Cláudio, Leonardo e Orlando, comerciantes e funcionários públicos paulistanos saídos das melhores escolas, que na década de 1940 simularam serem matutos para se alistar na Expedição Roncador-Xingu, lançada pelo governo federal com a função de mapear essa região do território brasileiro. Os Villas Bôas foram responsáveis pelo primeiro contato entre o homem branco e as tribos existentes, abraçaram a causa indígena, passaram a viver na mata e conseguiram que o então presidente, Jânio Quadros, decretasse a criação do Parque Nacional do Xingu em 1961. Trata-se de uma experiência de ambições épicas que ganhou um filme com a mesma envergadura.

Felipe Camargo, João Miguel e Caio Blat vivem, respectivamente, Orlando, Cláudio e Leonardo Villas Bôas e contracenam com um elenco indígena selecionado no local das filmagens. “Fomos de aldeia em aldeia perguntando quem queria participar. Fizemos uma ampla pesquisa”, diz Hamburger, que foi seduzido a contar essa história pelo amigo Fernando Meirelles, diretor de “Cidade de Deus”. O método de preparação de elenco usado no thriller carioca foi repetido com sucesso em “Xingu” sob a supervisão de Chico Accioly. “Ele passou um mês captando imagens, fazendo testes e, posteriormente, dando workshops de interpretação.” Não é necessário dizer que os atores indígenas dão um show – eles reencenaram para a câmera inclusive rituais sagrados.

img2.jpg
"Nossa aproximação com os índios foi lenta,
resultado de uma desconfiança mútua secular"

Cao Hamburger, cineasta

A ideia de levar para as telas a aventura dos sertanistas não foi de Meirelles, mas do próprio filho de Orlando, Noel Villas Bôas. “Eu achava a história interessante, mas não a conhecia direito. Quando li “A Marcha para o Oeste” (relato da expedição escrito pelos irmãos Villas Bôas), me encantei”, afirma o diretor de “Cidade de Deus”, que assina a produção. Projeto iniciado, Marina (viúva de Orlando) alimentou os roteiristas de fotos e histórias, esclarecendo como era o relacionamento entre os três irmãos – o caçula Leonardo foi expulso da expedição ao engravidar uma índia, fato que repercutiu mal no Sudeste e quase minou a criação do parque. Os índios também serviram de fonte. “Os que conviveram com eles nos procuravam para dar mais detalhes. Até regravei uma cena para deixá-la mais fiel a um desses relatos”, diz Hamburger.

Baseada na cidade de Palmas, no Tocantins, a produção do filme foi uma aventura à parte. Para filmar com segurança na floresta, foi necessária a contratação de um rastreador de cobras e de um espantador de onças. “No fim do dia, nosso diretor de arte foi olhar como estava o cenário que ele havia feito no Jalapão e deu de cara com uma onça pintada”, conta o cineasta. Não é só nesse aspecto que a realidade local se mantém ainda parecida com a do passado. Apesar de já ter acontecido há meio século, o enredo ecoa nos dias de hoje pelos eternos conflitos em torno da demarcação das terras indígenas. Se antes a Transamazônica representou uma ameaça ao desalojar a tribo Kreen, hoje o mesmo acontece com a implantação da usina de Belo Monte. “A cena em que o presidente Médici hasteia a bandeira brasileira se passa na mesma cidade em que se está construindo a usina”, diz Meirelles, que tem se mostrado atuante em relação à questão e deu todo o apoio a esse gênero de filmes pouco explorado pelo cinema nacional. Hamburger endossa a tese: “Fomos muito colonizados. Sabemos mais histórias do Primeiro Mundo do que nossas. Espero mudar isso com ‘Xingu’.” 

img4.jpg

img1.jpg
SEMELHANÇA
João Miguel, Felipe Camargo e Caio Blat (topo) e os irmãos
Leonardo, Orlando e Claudio (acima). Abaixo, parte do elenco indígena

img3.jpg

img5.jpg

img6.jpg
“Xingu” custou R$ 15, 5 milhões. As filmagens aconteceram nos
locais onde se passou a história real e nelas foram usados
rastreadores de cobras e espantadores de onças