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A fora uma ou outra rara lembrança, o nome de Heitor Villa-Lobos, por muito tempo, não passou de um verbete de enciclopédia para muitos brasileiros. Nos últimos anos, os jovens tiveram poucas chances de ter acesso à obra do músico, reconhecido pelos especialistas como um dos maiores do mundo.

"Ele foi certamente um dos poucos gênios do século XX", resume o maestro João Carlos Martins, que, no início do mês, foi aplaudido de pé no Lincoln Center, em Nova York, ao executar duas obras do mestre. Ironicamente, por conta das homenagens prestadas a ele no cinquentenário de sua morte, Villa-Lobos renasce.

O maior desses eventos programados no País é a exposição que começa na segunda-feira 12 no Arquivo Nacional do Rio de Janeiro, "Viva Villa!". Partituras, documentos, instrumentos musicais e outros objetos do artista estarão expostos em meio a instalações de áudio e vídeo.

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Cinco vagões de trem cenográficos servirão de ambiente para contar sua história, e está prevista uma intensa programação de concertos. "É a maior exposição já feita no Brasil sobre uma só pessoa", afirma Fabiano Canosa, curador do evento, que levou três anos garimpando material e planejando a mostra.

Não custa lembrar, agora que o ensino de música passa a ser obrigatório nas escolas, que Villa- Lobos foi um dos maiores incentivadores desse tipo de aula, através dos cantos orfeônicos. O maestro teve as primeiras lições de música clássica com o pai, Raul, e aprendeu a tocar violão sozinho, em meio às rodas de choro cariocas.

A mistura de erudito e popular acabaria por se transformar na marca de sua obra, já que suas composições eram inspiradas não somente no samba e no chorinho, mas também em sons de origem indígena e africana. "Essa influência da música do povo pode servir de ponte para que as novas gerações passem a se interessar por concertos", afirma Canosa. Por causa dessa inovação, na época Villa foi rechaçado no meio acadêmico.

Mas uma visita do pianista polonês Arthur Rubinstein ao Brasil, em 1918, proporcionou a oportunidade de mostrar seu trabalho em Paris, onde começou seu reconhecimento internacional. Daí em diante, o sucesso foi crescente. Após sua morte, em 17 de novembro de 1959, a divulgação de suas obras passou a declinar.

"Geralmente, o gênio é reverenciado em seu próprio território, mas por muito tempo os governos brasileiros parecem ter perdido a memória", critica o maestro Martins. "Acredito que isso começa a ser retomado agora." Espera-se que, passada a efeméride, o resgate continue

A vida do mestre

O maestro Heitor Villa- e o popular Lobos nasceu no Rio de Janeiro, em 5 de março de 1887. Aos 18 anos, viajou pelo Nordeste, se encantou com os violeiros e incorporou o som das cantigas nordestinas, samba e choro às suas musicas. Em 1930, compôs a primeira música de sua famosa série, as "Bachianas". Ao ter um câncer diagnosticado, em 1948, foi operado em Nova York e morreu 11 anos depois.