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Quando o assunto é moda, a década de 80 tem ensaiado um retorno com alguns elementos estéticos ressuscitados e revisitados. Exemplos disso são as fuseaus (que agora são chamadas de leggings), as calças baggy (apelidadas de namorado) e as polêmicas ombreiras, que surgiram nos anos 40, fazem parte do DNA da década de 80 e estão voltando à cena. É neste verão, porém, que a influência daquela época vem com tudo – e ao mesmo tempo. Os indefectíveis tons cítricos, por exemplo, imortalizados pelo movimento new wave, e a vertente debochada do rock n’ roll, estão na coleção da Rosa Chá, com direção criativa de Alexandre Herchcovitch, apresentada na semana de moda de Nova York, em julho. Até mesmo os cabelos volumosos, sejam cacheados, sejam frisados, prometem retornar, ameaçando a ditadura dos ultralisos no melhor estilo chapinha progressiva. Todos esses oitentinhas, que estiveram presentes nos últimos desfiles de moda nacionais e internacionais, sinalizam um verão digno de túnel do tempo, ao som de Blitz, Lulu Santos e B- 52’s. “As influências são muitas”, diz a consultora de moda Alexandra Farah. “Destacaria, em especial, as ombreiras e os vestidos justos e curtos”, acrescenta. O retorno, no entanto, não deixa de ser a grande ironia dos últimos tempos. “Muita gente adora criticar os anos 80”, comenta o historiador Marco Sabino, autor do livro “Dicionário da Moda”. “Mas essa foi uma época muito rica para a moda: tinha mau gosto, mas também tinha beleza.”

A década em questão foi marcada pelo exagero. A maquiagem era carregada e colorida. Os cabelos, armados e/ou assimétricos. Os looks, resultado da febre da aeróbica e do new wave, eram compostos por leggings, polainas, tons cítricos e estampas de bichos – às vezes, tudo ao mesmo tempo. Para complementar, muita bijuteria, como crucifixos e pérolas. Esses itens podiam ser vistos, por exemplo, adornando o colo da popstar Madonna no longa “Procura-se Susan Desesperadamente” (1985). Tanta alegria, versatilidade e ousadia colidiam com a realidade econômica e social dos anos 80 no País, com índices estratosféricos de inflação e conflitos políticos.

Mas, para conquistar as consumidoras exigentes de hoje, a moda oitentista sofreu alterações. As calças baggy, por exemplo, estão menos volumosas e as ombreiras deixaram de primar pelo exagero, como aquelas que eram vistas em looks de personagens do seriado americano “Dallas” (1978-1991), e pelo aspecto caricatural (exemplo dos terninhos que Xuxa e suas paquitas usavam). O acessório denota poder às mulheres, que sempre recorrem a ele em tempos difíceis, de guerra e crise econômica, por exemplo. As ombreiras de hoje deram o que falar ao surgirem nos últimos desfiles da grife espanhola Balenciaga (com ombros marcados e mangas arredondadas) e nas passarelas da francesa Balmain (com ombros pontudos, que fizeram a cabeça de celebridades do calibre de Madonna, Victoria Beckham e Beyoncé, todas conhecidas por ditar moda). Agora, de fato, têm ganhado as ruas. No Brasil, a cantora Wanessa e as atrizes Danielle Winits e Grazi Massafera já aderiram à tendência.

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Além disso, ao desembarcar em pleno século XXI, a moda oitentista encontra um contexto mais contido. “Naquela época, tudo era usado ao mesmo tempo”, diz Sabino. “Agora, um elemento mais “cheguei” é associado a outro mais discreto”. Caso das leggings coloridas, brilhantes e estampadas, que geralmente são combinadas com top branco ou preto. Ou os tons flúor, usados em conta-gotas, num detalhe ou peça da produção.

De carona, os cabelos devem sofrer influências, com a tendência de cachos e muito volume, tendo como garota-propaganda a atriz Taís Araújo, protagonista da novela das 8 da Globo. Mas não há risco de que a técnica da permanente, que fazia todas as mulheres parecer cães poodles, volte. A estética seria uma evolução da chapinha da década de 90, que deixava os cabelos escorridos, e do babyliss dos anos 2000, que imprime movimento aos fios. “Acho difícil a moda do cabelão pegar”, diz a consultora Alexandra. “Mas esses penteados devem trazer liberdade a muitas mulheres, loucas para assumir os cachos.” Seguindo a mesma lógica, o frisado volta a ser uma opção. Esteve nas passarelas – no desfile da grife Animale – e ganha adeptos no Hemisfério Norte, como a apresentadora americana Tyra Banks. A ideia é beber da fonte, mas com moderação.

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