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Sem su rpresas Teixeira (à esq.) e Blatter durante o anúncio das 12 cidades-sede

Uma revolução começou a tomar forma no Brasil no dia 31 de maio e vai culminar com o pontapé inicial da Copa do Mundo em junho de 2014. A partir de agora, tem início a contagem regressiva para mudar transporte, serviços públicos, telecomunicações e energia nas 12 capitais anunciadas como subsedes do campeonato. A escolha foi comemorada pelas vencedoras como a conquista de uma final de campeonato. A empolgação das eleitas – Belo Horizonte, Brasília, Cuiabá, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Natal, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo – se explica. Estudos preliminares indicam que o torneio irá trazer R$ 40 bilhões em investimentos, sendo R$ 20 bilhões diretos. Poucos eventos são capazes de acelerar tanto o desenvolvimento urbano e movimentar a economia de uma localidade quanto uma Copa do Mundo. O exemplo mais recente, da Alemanha, é ilustrativo. Palco do torneio em 2006, o país viu seu Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços gerados – crescer 0,5 ponto percentual naquele ano graças, exclusivamente, à realização da competição. "Nas cidades- sede aumenta o número de obras públicas e o crédito vindo da União e da iniciativa privada flui com mais facilidade", afirma Nelson Chalfun, professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), cuja capital será sede da grande final do campeonato mundial.

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MUDANÇAS Investimento no Rio de Janeiro para 2014 ajudará cidade em disputa pela Olimpíada 2016

Engana-se quem pensa que a maior fatia dos investimentos e do trabalho para uma Copa se concentra nos estádios. Eles podem ser o elemento que mais chama a atenção durante o mundial, mas têm importância secundária no preparo do país e das cidades para o evento.

"Quando muito, só 15% do dinheiro destinado para uma Copa do Mundo vai para os estádios – os outros 85% quase sempre são reservados para gastos com infraestrutura", revela José Roberto Bernasconi, presidente do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia (Sinaenco). Isso deve ser visto com bons olhos. Estádios servem a interesses muito específicos e por mais multifuncionais que sejam – os mais novos têm shoppings, cinemas, academias e piscinas – não têm o impacto perene de uma obra de infraestrutura, como uma nova linha de metrô, trem ou um aeroporto. "É isso que fica quando uma Copa termina", diz.

Um dos grandes ganhos dessas capitais brasileiras será na área de telecomunicações e energia. A Federação Internacional de Futebol (Fifa) exige a instalação de sistemas que garantam a transmissão do evento mesmo em casos de falhas na rede elétrica e na transmissão de dados.

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Chamado de dupla redundância, o sistema garantirá que os 20 mil jornalistas esperados para a Copa de 2014 não fiquem no escuro, nem deixará os mais de 30 bilhões de telespectadores de todo o mundo desassistidos. Com o fim do torneio, a população herdará uma rede elétrica e de comunicação de última geração.

O transporte também será renovado.

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No Ceará, cuja capital Fortaleza foi escolhida, é esse o setor que lidera os gastos com preparativos para a Copa, com 63,2% dos R$ 9,4 bilhões da verba prevista. Com esse dinheiro, serão construídas três linhas de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) interligadas a um complexo rodoviário que une o Aeroporto Internacional Pinto Martins, o Estádio Castelão e a região hoteleira de Fortaleza. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a urbanização de grandes favelas, novas linhas de metrô e corredores de ônibus dominam o orçamento, que ultrapassa os R$ 30 bilhões. Para efeito de comparação, somados, os gastos com as reformas dos estádios do Maracanã e do Morumbi não chegam aos R$ 600 milhões. Há previsão também de ampliação de estradas intermunicipais. O Rio tem um intenso calendário de obras também por causa da candidatura à Olimpíada 2016. Em Cuiabá, o foco nos investimentos em sistemas de serviços públicos é tão grande que o secretário de Comunicação, Maurélio Menezes, chega a evocar o espírito desenvolvimentista quando fala no que pode acontecer até 2014. "A nossa infraestrutura pode dar um salto de qualidade que, em outras circunstâncias, levaria mais de 50 anos para se concretizar", afirma.

AMAZONAS E RIO DE JANEIRO Vivaldão (à esq.) e Maracanã (à dir.) são dois dos projetos mais sustentáveis para estádios

José Fogaça, prefeito de Porto Alegre, é outro que acredita na força da Copa como aceleradora de investimentos.

"Muitas obras já estavam planejadas, mas o evento concentra a injeção de recursos em um período menor", explica.

A magnitude dos projetos e a rapidez com que eles devem ficar prontos provocam um impacto econômico significativo. Segundo estudo conduzido pela Fundação GetulioVargas (FGV), em parceria com o Comitê Organizador da Copa 2014 (COL), 3,6 milhões de empregos serão gerados por ano entre 2009 e 2014 por causa do evento esportivo, injetando, nesse período, R$ 155,7 bilhões na economia.

Parte das vagas será ocupada por mão de obra qualificada, como os 25 mil bilíngues do Paraná. "Mas, como boa parte dos empregos criados será no setor de construção civil, que não exige muita capacitação, o impacto sobre a economia real será perceptível em pouco tempo", diz Chalfun, da UFRJ.

O cenário é favorável, mas os benefícios estão longe de ser garantidos. Em estudo intitulado "Vitrine ou Vidraça: Desafios do Brasil para a Copa de 2014", publicado na terçafeira 2, o Sinaenco alerta para a possibilidade de a Copa agir como lupa para os defeitos estruturais do País.

Cerca de 600 mil turistas são esperados apenas no mês de junho de 2014. Eles esmiuçarão cada detalhe das cidades brasileiras. Nesta semana, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) organiza um seminário no Rio com a presença dos representantes das 12 cidades para o início da fase de cobranças. Será estabelecido um cronograma e, se ele não for cumprido, elas poderão perder o status de sede.

As outras cinco cidades que foram preteridas como sede também terão a oportunidade de ganhar com a Copa. Para elas, a Fifa reserva as chamadas fun fests – onde telões são montados para mostrar os jogos e as prefeituras ganham vendendo cotas de patrocínio para esses locais. Na Alemanha em 2006, por exemplo, as fun fests reuniram 11 milhões de pessoas. Esse também será o torneio da integração latina.

Além do Brasil, mais quatro países do continente, que serão classificados nas Eliminatórias, estarão presentes ao evento, cada um em uma cidade- sede.