15/03/2006 - 10:00
Sempre que entrava no restaurante Maxim’s, um dos mais charmosos endereços de Paris no auge da belle époque, o brasileiro Alberto era aplaudido de pé. Freqüentemente ele estava na companhia de gente famosa, como o joalheiro Louis Cartier e o arquiteto Gustave Eiffel. Tanto nos restaurantes como em qualquer outro ponto da cidade, se alguém ainda não sabia quem era Alberto, era fácil adivinhar – além dos ternos impecáveis, ele levava regimentalmente na cabeça um sofisticado e inconfundível chapéu. É principalmente nesses maneirismos e idiossincrasias, e no lado mais humano e menos profissional de Alberto Santos Dumont, que está focado o curta-metragem 14 Bis, dirigido por André Ristum.
Atualmente em fase de montagem, o filme deve estrear em outubro, mês em que será comemorado o centenário do primeiro vôo da história da aviação. Santos Dumont e seu avião 14 Bis voaram no Campo de Bagatelle, na França. O protagonista de 14 Bis é o ator Daniel Oliveira e, segundo o diretor Ristum, a sua escolha foi cercada de coincidências: “Além de ser mineiro como o inventor do avião, Daniel passou a infância na avenida Santos Dumont, onde seu pai tinha uma lanchonete chamada 14 Bis.” Entre outros atores, o elenco conta com o italiano Nicola Siri. E tem o jogador de pólo Rico Mansur fazendo uma ponta como um dos mecânicos da equipe de Dumont.
O filme terá entre 15 e 20 minutos e seu orçamento foi de R$ 500 mil. “As pessoas podem achar esse valor expressivo, mas é que geralmente curtas têm uma produção quase artesanal, com elenco de amigos, gente trabalhando sem receber. 14 Bis não está sendo feito assim”, diz Ristum (assistente de direção de Bernardo Bertolucci em Beleza roubada). No quesito figurino, o filme é primoroso. Desenvolvido pela portuguesa Maria Gonzaga, que já trabalhou em longas de Wim Wenders, as roupas tiveram de ser transportadas em 15 malas de Lisboa para São Paulo. “A gente tentou usar os figurinos da Rede Globo, mas a emissora não os aluga”, diz o produtor LG Tubaldini Jr. Deu trabalho também reconstituir os refinados cenários franceses nos quais Santos Dumont desfilava a sua elegância no início do século XX. O restaurante Maxim’s, por exemplo, foi reproduzido no salão nobre da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. “É um dos pouquíssimos lugares de São Paulo que preservam o estilo art nouveau”, diz Tubaldini. Esse curta integra um projeto ambicioso de Ristum, que pretende transformá-lo em longa-metragem em 2008. “Vamos aproveitar algumas cenas”, diz ele. Enquanto esse projeto não decola, o diretor prepara em ritmo acelerado o primeiro vôo de seu 14 Bis.