14/10/2009 - 10:00
Depois da vitória do Rio de Janeiro para sediar a Olimpíada de 2016, é hora de levantar a manga da camisa e trabalhar. Os desafios são grandes e vão exigir dos governantes empenho para honrar os compromissos assumidos com o Comitê Olímpico Internacional. Entre as prioridades dessa empreitada estão a despoluição da Baía de Guanabara e a questão da segurança pública. À frente de tão grandioso desafio está um político que sempre acreditou que o Rio levaria essa: o governador do Estado, Sérgio Cabral (PMDB). Desde já, ele adianta que a maior obra a ser realizada será a ligação do metrô da Gávea à Barra da Tijuca. Se conquistar o título de primeira cidade a sediar uma Olimpíada no continente rendeu ganhos de popularidade ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apresentar credenciais para a boa realização do evento pode significar para Cabral, de 46 anos, uma grande chance de reeleição no ano que vem. Nesta entrevista à ISTOÉ, ele fala das primeiras providências nessa caminhada olímpica e aponta o destino que Lula poderá ter ao fim de seu segundo mandato: o cargo de secretário- geral da ONU.
"Muitas vezes, aqui no Rio, os políticos optaram pelo populismo. O que estamos fazendo é reorganizar o Estado"
"O Rio já mostrou a capacidade de realizar eventos internacionais em segurança. O Pan provou isso"
O mais importante é que os três níveis de governo mantenham o discurso afinado. A orientação do Comitê Olímpico Internacional é dar uma acalmada e aguardar a chegada, em novembro, de 15 executivos que irão montar um cronograma de sete anos de trabalho. Como o Rio terá a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo em 2014, na qual a cidade vai sediar a final e também vai ter o centro de mídia, acredito que vamos chegar a 2016 com muito pouca ou nenhuma sofreguidão.
Esse processo está andando muito bem. Temos uma programação de saneamento para os próximos três, quatro anos. Mas já fizemos bastante. Recebemos a estação Alegria do Caju com 400, 500 litros por segundo de tratamento primário. Hoje temos 2.600 litros por segundo de tratamento secundário. Por isso, Paquetá não tem mais praia suja e outras praias estão em nível de balneabilidade que não tinham há 30 anos. Talvez a obra mais ambiciosa seja uma que não está no projeto levado ao COI. É a ligação do metrô entre Gávea e Barra da Tijuca.
O Rio já mostrou a capacidade de realizar eventos internacionais em segurança. O Pan provou isso. Eu disse aos membros do COI: se quiserem fazer os Jogos Olímpicos em segurança, é possível alcançar esse objetivo em dois meses. Com o nível de entendimento com o governo federal, ponho 40 mil homens da Força Nacional de Segurança nas ruas. Mas o que queremos é mudar a política de segurança. Queremos chegar a 2016 com a cidade tranquila antes, durante e depois do evento. Para isso, estamos combatendo a corrupção na polícia, melhorando a política de gratificação dos policiais, investindo em tecnologia. Conseguimos empréstimo do BNDES para interligar todas as delegacias online. Até 2010 vamos acabar com as carceragens em delegacias, através da casa de custódia. Será o primeiro Estado a alcançar essa meta.
Esse é o grande caminho. A ministra Dilma (Rousseff) inclusive visitou o Complexo do Alemão com esse objetivo. Como o tempo de mazelas e absurdos foi muito grande, tivemos nesses 15 anos um aumento significativo de comunidades carentes sem condições mínimas. O que estamos fazendo no Alemão, em Manguinhos e na Rocinha, além de facilitar a formalização das empresas, é qualificar os jovens, levar cultura.
O presidente falou que no Brasil há muitos pessimistas e que alguns desses dormem, guardam o sapato e no dia seguinte acham que o sapato já está velho. O cara diz: não vai dar no meu pé. Tinha gente que dizia que Obama estava chegando e por isso os EUA ganhariam. O rei da Espanha e o primeiro-ministro japonês também estavam lá. E acabamos ganhando. Acho que acabou essa fracassomania que era muito forte no Brasil e no Rio. Das minhas realizações, a maior foi recuperar a autoestima do carioca.
Certamente, mas é essa meta que nós devemos perseguir. Com persistência, com tenacidade, mas sabendo que não há solução fácil. Muitas vezes, aqui no Rio, os políticos optaram pelo atalho. Esse é o caminho do populismo, da desorganização do Estado. O que estamos fazendo é reorganizar o Estado.
Antes, o cara ia para o bar e das duas uma: ou reclamava da vida, dizendo que os investimentos estavam saindo, que ninguém queria se instalar aqui, ou então discutia quem tinha razão, o presidente, o governador ou o prefeito. Os três não se entendiam.
Mesmo que o Brasil inteiro tenha comemorado de uma forma extraordinária, acho que ainda não caiu a ficha. As pessoas sentem que é uma coisa importante, mas nem elas, nem eu, nem o presidente Lula, nem o prefeito Eduardo Paes ainda temos a exata noção do que isso representa para a cidade e o País nos próximos anos.
Se somássemos todos os recursos de comunicação dos governos federal, estadual e municipal, essa verba não pagaria nem 5% da mídia espontânea que o Rio recebeu nesses últimos dias. A imprensa do Azerbaijão, Cazaquistão, Rússia, França, Estados Unidos. O que isso significa? É uma atmosfera favorável para o turismo, para os investimentos.
É natural que o presidente seja destacado, porque é o grande líder e entrou de corpo e alma nessa tarefa. Então, é mais do que justo. Além disso, ele sempre tem a gentileza de fazer referências a mim.
Essa vitória não seria possível sem ele, o presidente é o grande padrinho dessa estrondosa vitória. Agora, houve também um conjunto de fatores, como uma delegação que tem o Lula, o governador, o prefeito, o Pelé, o Paulo Coelho, o (Carlos Arthur) Nuzman, que é muito respeitado e é um obstinado. Mas o presidente tem excelente conceito internacional, o que pode até definir seu futuro.
Não se surpreenda se no último ano de governo do presidente Lula algum chefe de Estado lançar seu nome para secretário-geral da ONU. Ouvi isso em Copenhague e em outros lugares. Isso aconteceria pelas credenciais do grande político que consegue fazer a ponte entre o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul. E também do grande homem público que faz o link do capital com o trabalho. O grande responsável pelo esvaziamento do G-8 e valorização do G-20 foi ele.
Se somarmos os investimentos diretos da União aqui, nesse momento devem chegar a mais de R$ 5 bilhões. Se contarmos com os indiretos, com as empresas como Nuclebras, Petrobras e Eletrobrás, chegamos a algo entre R$ 46 bilhões e R$ 50 bilhões.
Claro, ele quer resultado, quer que a vida dele melhore. Que o transporte, a educação e a saúde ganhem qualidade, que a violência diminua. Ele passou muitos anos com a contestação estéril. Não faltou gente do PMDB, companheiros que me procuraram, dizendo que eu deveria ser candidato a presidente da República. Disse que não. De coração, não quero botar nenhuma ambição pessoal à frente do projeto Rio de Janeiro. O PMDB nacionalmente tem que estar com o presidente Lula e com a ministra Dilma e não por uma questão pragmática, mas por uma questão conceitual.
O eleitor percebe a ideologia de quem faz uma política optando sempre pelo campo popular, de governantes que não são elitistas. Políticos que acham que é importante fazer o teleférico no Complexo do Alemão, porque o morador de lá demora 50 minutos para descer do alto do morro. Acham importante fazer o Arco Rodoviário porque vai gerar empregos na Baixada Fluminense. O eleitor tem essa leitura na qual está embutida a ideologia.
Um terço das obras já está em andamento, outro terço já está contratado e do restante vamos tratar a partir de agora. Todos os gastos estarão num site que fará com que o cidadão possa conferir a transparência desse processo.
O eleitor percebe a ideologia de quem faz uma política optando sempre pelo campo popular, de governantes que não são elitistas. Políticos que acham que é importante fazer o teleférico no Complexo do Alemão, porque o morador de lá demora 50 minutos para descer do alto do morro. Acham importante fazer o Arco Rodoviário porque vai gerar empregos na Baixada Fluminense. O eleitor tem essa leitura na qual está embutida a ideologia.
Um terço das obras já está em andamento, outro terço já está contratado e do restante vamos tratar a partir de agora. Todos os gastos estarão num site que fará com que o cidadão possa conferir a transparência desse processo.