Ela mede apenas 36 centímetros,
pouco mais do que uma régua usada
por estudantes. Pesa exatos 4,970 kg. Mesmo assim, resume e simboliza a
maior conquista da história do esporte em todos os tempos: o título de campeão mundial de seleções de futebol. A Taça Copa do Mundo Fifa, o troféu com formas humanas erguendo um globo, feita em ouro maciço 18 quilates com duas camadas de pedra malaquita verde na base, estará novamente em disputa nos gramados a partir do dia 18 de junho. Na verdade, quem vencer o Mundial da Alemanha levará para casa uma réplica da preciosidade. A original é acariciada apenas a cada quatro anos, nas festas de conquista de título (os brasileiros tiveram esse prazer em 1994, nos Estados Unidos, e em 2002, no Japão), mas nunca entregue a nenhum país. No seu fundo estão gravados os nomes dos campeões mundiais desde 1974. Será assim até o torneio de 2038. Depois desse torneio a Fifa vai aposentar a taça, incorporá-la definitivamente ao seu acervo e lançar uma nova peça para identificar o seu principal torneio.

A história da Taça Copa do Mundo Fifa começa em abril de 1971, quase um ano depois de o Brasil ter conquistado, no México, a posse definitiva do primeiro troféu da Fifa, o Jules Rimet. Na época, as regras mandavam entregar a taça ao primeiro país que conquistasse o título por três vezes. O Brasil, que já tinha sido campeão em 1958, na Suécia, e em 1962, no Chile, ficou de vez com a Jules Rimet, que teve um fim trágico: acabou derretida. Para escolher o modelo da taça que seria cobiçada a partir do Mundial da Alemanha, em 1974, a Fifa abriu um concurso e recebeu 53 projetos de todas as partes do mundo. Venceu o do artista plástico italiano Silvio Gazzaniga. “Inspirei-me em dois elementos: a força dos atletas de alto nível e o simbolismo de conquistar e erguer o mundo”, conta Gazzaniga, hoje um simpático senhor de 85 anos.

Detalhista ao extremo, Gazzaniga
trancou-se no escritório em que trabalhava, o Stabilimento Artistico Bertoni, em Milão, para definir sua proposta. Mandou buscar comida para não perder tempo e dormiu no estúdio durante o trabalho. Uma semana depois, concluiu, numa base de cera, o projeto que impressionou os colegas de empresa, mas não o deixou “cem por cento feliz”, conforme confessaria tempos depois. Caprichos de um obsessivo. Mesmo três décadas e meia após a criação, as formas arredondadas da taça não passam a sensação de envelhecimento. “O fato de o troféu ter resistido a muitas tendências estéticas desde 1971 mostra que os princípios que me serviram de inspiração não foram corroídos pelo tempo”, analisa. Outro sintoma inegável da aceitação da taça foi o crescimento do escritório em que ele trabalhava. Depois da vitória de Gazzaniga, as encomendas começaram a chover e a empresa, que na época contava com menos de 30 pessoas, chegou a abrigar 150 funcionários.

Desde então, o artista e bilhões de pessoas em todo o mundo, pela tevê, viram a Taça Copa do Mundo Fifa ser erguida por craques de alto quilate. O primeiro a levantá-la com orgulho foi justamente o alemão Franz Beckenbauer, líder em campo da seleção campeã de 1974 e hoje principal nome do comitê organizador da Copa 2006. Depois vieram os argentinos Daniel Passarella (1978) e Diego Maradona (1986), o italiano Dino Zoff (1982), o francês Didier Deschamps (1998), o alemão Lothar Matthäus (1990) e os brasileiros Dunga (1994) e Cafu (2002). No ano passado, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, promoveu uma exposição mundial da taça original, que incluiu cidades brasileiras. Depois, num encontro com Gazzaniga e autoridades do esporte, como o presidente da federação européia de seleções, a Uefa, Lennart Johansson, pediu ao artista que coordenasse uma pequena restauração para devolver à peça o brilho original e a definição de algumas partes já um pouco desgastadas pelo manuseio. A rainha da festa precisa estar exuberante. A disputa por ela, não duvidem, será feroz.