15/03/2006 - 10:00
Não, caro leitor, não houve caixa 2! Por favor, esqueça tudo o que viu sobre malas de dinheiro, dólares em cueca, mensalões, saques de parlamentares em agências bancárias, negociatas mil. Era tudo brincadeirinha. E todo mundo deve ser absolvido de culpa. A mensagem clara, sonora – audível aos ouvidos mais e menos delicados, até nos confins deste Brasil grande – foi transmitida ao vivo de Brasília. Entre gargalhadas, aplausos de pé aos acusados, comemorações noite adentro, construiu-se na capital federal uma ode ao caradurismo, à festa da impunidade, premiação máxima a práticas condenáveis e um endosso ilegítimo – porque não referendado pelos cidadãos – ao enunciado de que o crime compensa. Não havia dúvidas no caso do pefelista Roberto Brant, que admitiu publicamente ter recebido R$ 102 mil de caixa 2 para a sua campanha, nem do petista Luizinho, que por intermédio de assessores sacou outros R$ 20 mil. Mas o mérito da questão não estava ali para ser julgado. Não interessava se tais e outros parlamentares se beneficiaram do esquema traduzido no neologismo valerioduto – o infindável fluxo de capitais que abasteceu campanhas de políticos através do publicitário Marcos Valério. O que valia era o acordão: você livra meu partido, eu livro o seu, esqueçamos tudo e vamos em frente que o povo agüenta. O plenário da Câmara, nos seus plenos poderes, gargalhou sobre as conclusões lançadas por uma Comissão de Inquérito, montada entre os seus pares, para apurar os desvios. Cada qual votou resguardado pelo sigilo e eles disseram não às cassações. Disseram não à lei, aos direitos e deveres que eles mesmos, por força do cargo que ocupam, são responsáveis por criar. E, se os legisladores descumprem as leis, quem será obrigado a cumpri-las?