15/03/2006 - 10:00
Foi dada a largada para a mais fantástica odisséia no espaço. Um elevador sideral, com capacidade de transporte de 200 toneladas, sobe até uma plataforma cósmica distante 100 mil quilômetros da Terra. Um hotel espacial tem suítes ovais e prateadas com vista panorâmica para milhões de estrelas. Um novo planeta acaba de ser descoberto e, pela sua cor de diamante, é literalmente a nova preciosidade dessa imensidão. Festa cósmica. E o Brasil tem reserva vip nessa festa com o seu primeiro astronauta: o tenente-coronel da Força Aérea Marcos César Pontes.
No próximo dia 30, ele embarca na Estação Espacial Internacional, no Casaquistão. Como terráqueo boa-praça que é, o tenente-coronel levará para o espaço lembrancinhas – entre elas uma diversidade de bactérias e de sementes para cultivos experimentais científicos. Levará também, na cozinha da espaçonave, uma tecnologia desenvolvida no Brasil que permite aperfeiçoar a fabricação de pães através do rigoroso controle da temperatura do forno.
O astronauta brasileiro e sua estação serão ejetados para o espaço, que hoje está mais perto de nós. E isso não é ficção científica, é real. Tanto assim que um mundo de oportunidades e de descobertas astronômicas e tecnológicas se abre para poderosos e ousados investidores – o elevador espacial, só para ter uma idéia, está orçado em cerca de US$ 10 bilhões. Tudo isso é herança da primeira corrida ao espaço, quando o homem pisou a Lua em 1969 através do projeto americano Apolo. Desembarcar na Lua foi ponto de chegada de uma etapa da conquista espacial, mas foi, também, ponto de partida para um universo de novas descobertas e conquistas mais avançadas. A Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) mandará em breve, novamente, o homem para a Lua, mas dessa vez o nosso satélite natural será apenas um pit stop para se chegar a Marte. Recentemente, além do planeta-diamante UB313, foram descobertos buracos negros (gigantescos ralos cósmicos), uma infinidade de supernovas (as explosões de estrelas antes de elas se apagarem para sempre) e, na mais espetacular intervenção da astronomia, obtiveram-se imagens do brilho do Big Bang – a explosão cósmica que deu origem ao Universo.
A sonda Galileo e o telescópio Hubble, ambos americanos, trouxeram para a Terra imagens que nem a mente de um Steven Spielberg, elevada à última potência, poderia imaginar – as imagens de um cometa caindo sobre Júpiter. Esse planeta está a uma distância mínima da Terra de 588 milhões de quilômetros, mas as imagens do cometa chegaram aqui. Como se disse, o espaço está perto de nós. Todas essas descobertas não apenas deixaram os cientistas fascinados, mas também criaram subprodutos que influenciaram profundamente a vida cotidiana dos terráqueos. A corrida espacial permitiu o desenvolvimento de mísseis balísticos intercontinentais (felizmente nunca disparados) e a criação dos códigos de barra que estão, por exemplo, nos supermercados e nas contas que pagamos. Baterias recarregáveis, aparelhos de comunicação sem fio, internet, GPS, marcapasso e relógios a quartzo também provêem da tecnologia desenvolvida a partir da primeira “temporada espacial”. É fácil imaginar, então, o que acontecerá agora, quando a exploração está numa fase mais ousada e inédita – e na qual os dividendos não serão apenas tecnológicos, mas poderão ser contados em bilhões de dólares.
Chegou-se à evidência de que existe água fora da Terra – e se há água, provavelmente há vida. Foi em Marte, o planeta vermelho, que a sonda européia Mars Express cravou os seus tentáculos e obteve a evidência da presença de gelo. Também em uma das luas de Saturno a sonda americana Cassini encontrou sinais de água. Todas essas descobertas recepcionarão o brasileiro Pontes nos próximos dias, e incríveis engenhocas estarão prontas em breve para recepcionar outros astronautas. Com o desafio científico de vencer a força da gravidade da Terra, há o projeto revolucionário do elevador. O seu cabo de sustentação será um nanotubo de carbono desenvolvido por cientistas japoneses e um grama desse material custa US$ 500. Governos e investidores privados enxergam cifrões onde antes só viam estrelas. Estima-se em aproximadamente US$ 50 bilhões o montante que alguns países gastarão em 2006 com projetos espaciais. E nomes como os de Paul Allen (um dos fundadores da Microsoft) e Jeff Bezos (proprietário da Amazon, uma das maiores empresas de vendas pela internet) já estão na vanguarda da exploração comercial do espaço.
A Nasa está oferecendo US$ 250 mil para quem inventar um dispositivo de extração de oxigênio do solo lunar. A Pioneer Astronautics, empresa fundada por um ex-engenheiro da Lockheed Martin, ganhou um contrato de US$ 600 mil com a agência americana para construir um artefato que produza combustível de foguete a partir do dióxido de carbono que cobre a atmosfera marciana. A gigante da informática Cisco promete resolver os problemas de comunicação causados pelas distâncias espaciais. “O objetivo é estabelecer uma comunicação entre Washington e Marte tão eficiente quanto a comunicação entre Washington e São Franscisco”, diz Rick Sanford, diretor da Cisco. Numa analogia com o setor da informática, os empreendedores do espaço já criaram o seu “Vale do Silício”. Trata-se do deserto de Mojave, na Califórnia, onde estão as principais indústrias civis de pesquisa e desenvolvimento do turismo espacial. Desde 2004, a Administração Federal de Aviação certificou o aeroporto de Mojave como “espaçoporto” – de sua pista decolou e em sua pista pousou, em agosto de 2004, a SpaceShipOne, primeira espaçonave civil a transportar um passageiro. “Farei espaçonaves que levarão formadores de opinião para entender a importância de cruzar essa nossa nova fronteira”, diz Burt Rutan, fundador da Scaled Composites, que fabrica a SpaceShipOne. O projeto de Rutan tem o apoio de Richard Branson, magnata britânico que criou a empresa de turismo sideral Virgin Galactic. Ele encomendou os cinco primeiros SpaceShipTwo (sete passageiros) e vende passagens por US$ 200 mil. Segundo Branson, mais de 100 pessoas estão na fila. “Em breve o preço das passagens será atraente o suficiente para que milhões de pessoas queiram deixar a atmosfera”, diz ele.