Uma prática condenável e pouco enfrentada no mundo do futebol, o envio de adolescentes para o Exterior em condições precárias e às vezes desumanas, ganhou repercussão na semana passada com o drama vivido pelo paulistano Douglas dos Santos Rodrigues, 20 anos. Por um misto de ingenuidade, desinformação e algumas omissões do empresário contratado, ele ficou 16 dias, entre 5 e 20 de fevereiro, no aeroporto de Frankfurt, na Alemanha, sem banho e local para dormir e sem dinheiro para comer. No período, foi salvo pela ajuda de brasileiros que desembarcavam. Douglas deixou o Brasil com a promessa do Wilson Bellissi Jr. de que jogaria na Romênia. Normalmente, esses agentes prometem colocar o jovem num time europeu e, depois, cobram pela proeza. “O Bellissi falou que era só fazer uma semana de teste e assinar o contrato”, relatou Douglas, que gastou R$ 6 mil com passagens e documentos. Mas o clube romeno não foi buscar o jovem e a confusão se instaurou. “Meu sonho virou pesadelo”, desabafa. “Meu filho de novo na Europa? Só se for comigo”, jura a mãe, Madalena. Douglas chegou ao Brasil na terça-feira 21, mas outros cinco jogadores que estavam com ele ficaram na Alemanha.

Bellissi tenta se defender. “Nunca prometi contrato a ninguém e muito menos vou sujeitar alguém a ficar no aeroporto. O Douglas não queria voltar, o pai dele é que quis”, alega. O empresário Francisco Monteiro, conhecido como Todé, que assistiu craques como Rivaldo, Luizão e Djalminha, critica esse tipo de ação. Conta que ajudou garotos desamparados na Europa com comida e passagem de volta. “Hoje tem mais empresário do que jogador. O cara mal-intencionado chega, dá R$ 5 mil para os pais e leva o garoto embora. Se os moleques não se adaptam, eles abandonam”, afirma. “O garoto tem de sair daqui com uma aprovação do clube receptor em um documento via consulado”, ensina o ex-goleiro Gilmar Rinaldi, um dos mais respeitados empresários de futebol do País. Resumo da ópera: a melhor maneira de evitar dramas como o vivido por Douglas é, antes de tudo, conhecer melhor quem bate à sua porta para propor o paraíso.