Faça você mesmo as contas. Foram apenas dez gols na temporada 2005 e 2006 no Real Madrid, pouco para quem é Ronaldo, o Fenômeno, e recebe todo mês um salário em torno de R$ 12 milhões. Tudo bem que pela Seleção na quarta-feira 1º ele fez o dele. Mas todo mundo viu, foi um gol acidental. A bola chutada por Roberto Carlos resvalou no seu peito e enganou o goleiro russo. Ronaldo já fez gols mais bonitos. E foi mais feliz como artilheiro do Real Madrid, o time mais rico do mundo, com um faturamento de 276 milhões de euros em 2005, mas que não ganha um título importante desde 2002. A torcida anda impaciente e tem vaiado Ronaldo implacavelmente, como se ele fosse o culpado de toda a crise. Ele não suportou a ingratidão e, revoltado, saiu se queixando ao bispo e a quem estivesse perto. Quase jogou a toalha há poucos dias. Detonou uma crise que culminou com a saída do presidente Florentino Pérez, grande aliado do jogador e que o contratou por US$ 47 milhões. Agora, a pergunta que não quer calar. Qual o destino do craque num Real Madrid desestabilizado e longe das asas de Pérez? As apostas de que ele será o primeiro a deixar o clube em um eventual desmanche são altas.

Clubes de ponta do futebol europeu, como o Milan, fizeram seu canto de sereia chegar aos ouvidos do brasileiro. É bom que se saiba que, no papel, seu contrato com o time vai até 2008 e sua multa rescisória é uma efusão de dígitos, R$ 450 milhões. Mas no milionário futebol europeu tudo se paga. Ele não se faz de rogado e diz que “todas as opções são opções”. Mas se sua saída do Real Madrid parece próxima, como Ronaldo chegará à Copa do Mundo da Alemanha, onde o Brasil precisará mais do que de gols acidentais. É bom lembrar que a capacidade de superação do Fenômeno é exemplar. Ele chegou na Copa de 2002 desacreditado e voltou como herói nacional. Estaria aí sua redenção?

O certo é que Ronaldo precisa encontrar seu eixo. Pelé, que adora dar palpites, disse que seus problemas são extracampo. “A vida pessoal dele é confusa”, decretou o Rei. E bota confusa nisso. Desde que a torcida do Real Madrid começou a fustigá-lo com vaias, que reverberam mesmo nas vitórias, ele só tem criado problemas. Ao dizer que não se sente em casa no Santiago Bernabéu, templo sagrado do time espanhol, comprou briga com o atacante espanhol Raul, xodó dos merengues. A sorte é que na Seleção e no Brasil ele encontra o carinho que lhe é negado na Espanha. E Ronaldo volta, aqui, a ser bem-amado.