08/03/2006 - 10:00
O gatão da meia-idade deixou de ser aquele sedutor de plantão sempre disposto a jogar a rede quando uma mulher entra na alça de mira. Quarentão ou cinqüentão recente, está mais sensível. Enterrou o estereótipo de machão inveterado e hoje reafirma-se mais com a conquista do que com o sexo pelo sexo. Vive conflitos com a ex-mulher, tem filho, quer ser livre, mas não sabe exatamente como lidar com a liberdade. Sua imagem pode incluir um rabo-de-cavalo, mas não com o intuito transgressor do passado, e sim como prova de resistência aos tempos – ele ainda tem cabelo. Há 12 anos, esse personagem ganha rosto, ideário e consistência nas tiras do talentoso cartunista carioca Miguel Paiva, 56 anos. E vai chegar aos cinemas na sexta-feira 17, no saboroso O gatão da meia-idade. O ator Alexandre Borges, 40 anos, protagoniza a história com a autenticidade de quem veste a camisa. “Conheço bem essa mistura de excitação e melancolia”, arrisca o ator, casado com a atriz Júlia Lemertz, que também está no elenco.
A personalidade deste quarentão versão 2006 é fruto da conjunção de fatores interessantes. O primeiro é a luta entre a nostalgia da sensação de poder absoluto da juventude, um cenário ainda fresco na memória, e a evidência das limitações físicas, emocionais e sociais trazidas de forma inapelável pela idade. O tempo é cruel para todos. Pois esse homem maduro com visitas freqüentes ao universo dos garotões precisa administrar seus limites diante das tentações de uma sociedade inundada de novidades e apelos. E, além disso, administrar seus impulsos para não parecer um troglodita diante de mulheres cada vez mais conscientes do espaço que lhes cabe no mundo. Assim pensa o psicoterapeuta Luiz Cuschnier, 56 anos, autor de Homens e suas máscaras, a revolução silenciosa. Para ele, o conquistador no estilo gatão é aceito na sociedade e se assume. “O rabo-de-cavalo mostra que ele é menos preconceituoso e estimula o afeto. Não se apóia mais no poder, mas na essência masculina”, distingue. As gatonas agradecem.