Foi o padre quem primeiro provocou o político. Dom Odilo Scherer (foto), secretário-geral da CNBB, a solene congregação de bispos, atiçou: “O Brasil virou paraíso financeiro, a população esperava mais do governo Lula.” Mas há algo errado aí: logo a CNBB, aliada histórica do PT, defensora de uma alternativa de poder que, anos antes, ela mesma identificou no partido do presidente, foi ao ataque aberto, direto e contundente? Sim, e explica a mudança de postura com o argumento da frustração de expectativas. Do alto dos números eleitorais que lhe dão larga margem nas camadas mais pobres, veio o político desfilando resultados. O Bolsa-Família, a bandeira assistencialista que realimenta sua popularidade, bate 30 milhões de atendidos. Eis a população que representou mais da metade dos novos pontos porcentuais que o Lula-candidato agregou na sua escalada rumo a mais quatro anos. Ficaria a questão: e a outra banda da força desse político viria de onde? Do capital financeiro, repetiria o fervoroso crítico religioso. A provocação tocada pelo padre tem bases sólidas. São os números comparativos – que, reza a cartilha, nunca mentem – os algozes da discrepância. Por eles, é possível notar que o político ampliou sim os programas sociais, gastou mais nessa seara. Mas também por eles é visível a percepção de que os gastos na rubrica social representaram menos de 5% do custo com juros da dívida pública, numa desproporção crescente. Venceram com larga margem os senhores da ciranda financeira. Não apenas, faça-se a ressalva, aqueles alojados nos organismos multilaterais, FMI à frente, sedentos de cobrança de empréstimos mal pagos. No pacotão de beneficiários entra o banqueiro, ou banqueiros, eleitores felizes da era Lula, não declarados verbalmente, mas seguidores fiéis em atitudes e contribuições. E bota contribuições nisso! Os registros da religião petista dão mostras de que esses cordeiros ampliaram em mais de 1.000% as doações desde 2002 até aqui. O índice é esse mesmo, a repetir: mais de 1.000%, de algo em torno de R$ 520 mil para R$ 5,7 milhões anuais. Não há capela política, não há líder de rebanhos, não há doutrina partidária que não avancem diante de tanta caridade financeira.