08/03/2006 - 10:00
Ela está voltando, mas ele quer tomar-lhe a frente. A disputa entre a ex-prefeita Marta Suplicy e o senador Aloizio Mercadante pela candidatura do PT ao governo de São Paulo foi sacudida na semana passada por números surpreendentes. Apoiado pela cúpula do partido, a começar pelo presidente Lula, Mercadante teve um desempenho pífio na pesquisa Ibope divulgada na quinta-feira 2.
Com 14% de intenções, ele perderia a disputa para o ex-governador Orestes Quércia, cujo índice chegou a 26%. Com Marta, apesar do bombardeio que ela ainda sofre por sua administração em São Paulo, o PT pode-se ver com um pé no Palácio dos Bandeirantes. A ex-prefeita cravou 26%, colocando-se à frente de Quércia, que, nesta simulação, teria apenas 20%. “Não foi uma ducha de água fria”, comenta um dos coordenadores da campanha de Mercadante. “A verdade é que batemos num iceberg.” Entre os estrategistas de Marta, a pesquisa foi saudada com alívio. Fazia tempo que não se produzia uma boa notícia para aquelas hostes. “O eleitor do PT é pragmático”, disse um dos principais auxiliares dela. “Vai escolher quem tem chances reais de ganhar.”
A peleja entre ambos é de alto risco para a unidade do PT. Toda a cúpula partidária,
o que inclui a torcida pessoal do presidente Lula, trabalha por Mercadante. O
ministro do Trabalho, Luiz Marinho, é um de seus maiores entusiastas. Marta
montou seu castelo numa ONG chamada Instituto São Paulo de Políticas Públicas, onde despacham seus principais assessores – staff que inclui ex-secretários municipais e o marido, Luís Favre. Tem-se como certo, ali, que ela ganha de Mercadante na proporção de sete votos a três entre os petistas que vivem na capital. Seu problema está no interior, para onde ela tem multiplicado suas visitas. Nessa região, o senador, que subiu em palanques de diversos prefeitos do partido dois anos atrás, é o favorito. A prévia, à base do cabeça a cabeça, será decidida entre os petistas que vivem na Grande São Paulo. Melhor nas pesquisas, o pessoal de Marta levou ao time de Mercadante a idéia de realizar três levantamentos de opinião, a serem feitos por três institutos diferentes, apenas entre os petistas. O vencedor apoiaria o derrotado. Mercadante, dizem, nem roçou o vasto bigode antes de dizer um sonoro não à proposta.
Hoje com 190 mil filiados no Estado, o PT calcula que cerca de 60 mil militantes irão às prévias marcadas para o dia 7 de maio. O senador, que mantém um discurso de segurança sobre suas chances, na verdade está preocupado com suas funções de líder do governo Lula no Senado. Ele tem reclamado sobre passar muito tempo em Brasília e, assim, negligenciar a campanha. “Ainda não entrei em campo”, diz. “Mas, na hora do jogo de verdade, vou ganhar.” Marta renovou seu próprio fôlego com a pesquisa do Ibope. “Sofri uma campanha negativa no final da minha gestão, mas pelo jeito seus efeitos já estão se desfazendo.” O partido vai promover, a partir de agora, rodadas de debates entre os dois diante da militância. Para evitar que eles briguem em público, combinou-se a estrutura de seminários, nos finais de semana, com um abrindo os trabalhos e o outro fechando, sem choques diretos. Um verdadeiro programão para quem está no meio da disputa entre a política de olhos azuis e o senador com jeito de galã – os petistas de carteirinha.