08/03/2006 - 10:00
Mesmo o mais destemido dos
irmãos da família Daniel está assustado. A ISTOÉ, o médico oftalmologista João Francisco contou ter descoberto um esquema montado para seqüestrar seus filhos e, também, seus sobrinhos. Esta é a principal peça no quebra-cabeça de pressões que a família de Celso Daniel, prefeito de Santo André, região metropolitana de São Paulo, assassinado em janeiro de 2002, vem sofrendo nos últimos meses. A ela se juntou uma série de telefonemas anônimos e cartas ameaçadoras. “No começo do ano, recebi um e-mail, com origem no Rio de Janeiro, com juras de seqüestro contra meus filhos e sobrinhos”, diz João Francisco. “Cinco dias depois, fui informado por uma amiga, que não tinha conhecimento das tais ameaças, de que o seqüestro já estava sendo tramado dentro de uma favela.” A polícia investigou e trabalha com a informação de que a trama aconteceu, de fato, na favela do Jardim Zaira, na cidade de Mauá, na Grande São Paulo. Com o cerco se fechando, os Daniel escolheram uma saída radical: um a um, estão buscando o auto-exílio, conforme revelou o jornal Folha de S.Paulo na quinta-feira 2.
Dos quatro irmãos do prefeito morto – dois homens e duas mulheres –, Bruno,
o caçula, já partiu. “Ele conseguiu alguma coisa ligada ao meio acadêmico no Exterior”, relata João Francisco, que não revela o país de destino. Os filhos
de Bruno, dois rapazes e uma garota, já haviam saído no mês passado. Matricularam-se em cursos de extensão universitária em endereços igualmente não divulgados. Os dois filhos de João Francisco – um dos mais enfáticos denunciadores do assassinato do irmão – partem neste final de semana. Outra vez, sem dizer para onde. Enquanto isso, o pai saiu de Santo André para viver no Nordeste do País. “Não sei quando verei meus filhos de novo”, lastima João Francisco. As duas irmãs de Celso Daniel, que ficaram menos expostas no processo de denúncia do crime contra o prefeito, ainda mantêm seus endereços no Brasil. “Elas estão com a saúde abalada”, conta o irmão mais velho.
A decisão dos Daniel de abandonar o País irritou o promotor Roberto Wider Filho, que investiga a morte do prefeito e o esquema de corrupção na cidade. “É um absurdo eles terem que fugir, enquanto os assassinos de Celso desfilam pela cidade”, diz Roberto. Quatro anos após a morte do prefeito, sete acusados de participação no crime estão presos. Os principais acusados pelos irmãos de terem tramado o assassinato – Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, e Ronan Aguiar – estão em liberdade. Os Daniel, apesar da fuga forçada, continuam de cabeça erguida. “Não fraquejamos, pelo contrário. O que estamos fazendo é apenas e tão-somente proteger nossos filhos”, diz o médico João Francisco.