08/03/2006 - 10:00
Dias atrás, sem que ninguém registrasse, o ministro da Fazenda, Antônio Palocci, encontrou-se com o ex-ministro José Dirceu. Longa, a conversa travada em São Paulo teve por objetivo mapear os caminhos para a reeleição do presidente. Concluiu-se que Lula tem de aumentar sua presença eleitoral nos Estados-chave do Rio de Janeiro e Minas Gerais, mas que está muito bem em São Paulo e na região Nordeste. A conversa foi mais uma entre as várias missões que Palocci vem cumprindo na condição de virtual chefe da campanha eleitoral do presidente. É o próprio Lula quem quer assim. Na semana passada, ele pessoalmente decidiu que Palocci será o coordenador. “Ele tem saco de filó e sangue de barata. Tem uma paciência infinita e uma incrível capacidade de articulação”, elogiou Lula a um empresário amigo, dias atrás, para justificar sua opção.
Ao ser convocado, o ministro da Fazenda primeiro manifestou relutância, mas em seguida abriu mão de sua candidatura a deputado federal. Fez questão, entretanto, de manter o status de ministro durante todo o tempo da disputa. Criou-se, assim, uma questão jurídica: como permitir a Palocci ser, ao mesmo tempo, chefe de campanha e ministro? A saída encontrada para conciliar a vontade de Lula com o interesse do auxiliar veio pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A fórmula jurídica do consenso prevê a licença de Palocci, por 90 dias, logo após a convenção nacional do PT, em junho, de modo que ele possa coordenar a reeleição sem abandonar a Esplanada dos Ministérios. De julho a outubro, Palocci trocaria seu trono da economia pelo bunker petista no front da campanha, para retornar ao cargo em outubro. A fórmula garante três vantagens a um só tempo: a segurança na economia, a tranqüilidade na política e o privilégio da imunidade de ministro contra eventuais ataques da oposição na CPI dos Bingos.
Discretamente, como é de seu estilo, Palocci começa a se mover politicamente. Todo santo dia inicia o expediente com um despacho religioso com Lula no Planalto. E aumenta sua convivência, nos fins de semana, compartilhando a intimidade do casal Lula na Granja do Torto. As conversas se prendem cada vez mais às eleições e menos à economia. Com o ministro da Articulação, Jaques Wagner, a sintonia é quase telepática: o jeitão zen baiano de Wagner combina perfeitamente com o estilo manso budista de Palocci. Os dois se alternam nas articulações, dependendo da afinidade com o interlocutor. Palocci terá a seu lado, cuidando da comunicação, o jornalista João Santana e o publicitário Paulo de Tarso Santos, dono da Matisse (a agência oficial do Palácio do Planalto). Os ministros Luiz Dulci, da Secretaria Geral, e Luiz Marinho, do Trabalho, subordinados a Palocci, vão garantir que Lula seja bem-recepcionado em suas viagens. Há dez dias, mostrando por que é o chefe, Palocci manobrou sutilmente para diluir a notícia do crescimento pífio de 2,3% do PIB de 2005, marcando a divulgação para quando o País só tinha olhos para as plumas da Marquês de Sapucaí.
O ministro deve cumprir na eleição de 2006 o mesmo papel que desempenhou na vitória de 2002. Vai sair pelo País ouvindo uma multidão de empresários, reunindo-se em assembléias com trabalhadores, visitando as grandes centrais sindicais, debatendo, enfim, com dezenas de economistas de cores partidárias e sotaques ideológicos variados. Mas deixará como interino seu secretário executivo, Murilo Portugal. O atual secretário executivo do Ministério da Fazenda serve para colocar limites no empurra-empurra da campanha, exatamente como fazia em plena negociação da emenda da reeleição de FHC, à frente da Secretaria do Tesouro. Certa vez, diante da pressão de um senador que exigia verbas do Orçamento em troca do voto, Portugal sugeriu: “Vamos liberar o dinheiro e, depois de seis meses, mandamos a fiscalização em cima da obra.” Vai ser por aí.