A economia brasileira voltou a crescer no segundo trimestre de 2009. Não apenas voltou a crescer como voltou a gerar empregos, com aumento do número daqueles com carteira assinada e queda da taxa de desemprego. O comportamento da economia nesta recessão surpreendeu a todos. Apesar das declarações otimistas dos políticos no início da crise, nenhum economista, nem mesmo os membros do governo, acreditava que a economia iria ter uma reação tão boa. A ressaca foi forte, mas menor do que a esperada.

Várias foram as razões desta reação positiva da economia brasileira. Em primeiro lugar, é preciso valorizar a importância das reformas estruturais implementadas nos últimos 20 anos (privatizações, abertura da economia, equilíbrio fiscal, estabilização monetária, autonomia do Banco Central, etc.). Porém, outros fatores conjunturais também foram importantes. Primeiro, a economia mundial está reagindo melhor do que o esperado, principalmente a Ásia, em geral, e a China, em particular. Como a economia brasileira, nos últimos anos, aumentou substancialmente sua ligação com a economia chinesa, devido ao aumento da demanda por commodities, o efeito da recessão nas economias desenvolvidas sobre o Brasil tem sido mais que compensado pelo crescimento chinês.

O segundo aspecto foram as decisões de política econômica adotadas no início da crise. Em especial, a reação do BC brasileiro aumentando a liquidez do mercado financeiro, por meio da redução dos depósitos compulsórios dos bancos, da concessão de crédito para exportações, etc., e do aumento do crédito, principalmente às pessoas físicas, por parte dos bancos oficiais e para pessoas jurídicas pelo BNDES.

Além disso, as desonerações do IPI para automóveis, linha branca e materiais de construção, geraram antecipação de consumo e ajudaram a retomar o nível de demanda de antes da crise, em parte compensando a queda da demanda externa. Em particular, a reação positiva do mercado de trabalho limitou a queda da demanda. Para os bens chamados comerciáveis, que podem ser importados, o elevado nível de ociosidade no mundo será, provavelmente, suficiente para evitar pressão sobre os preços aqui dentro. Porém, para os chamados bens não comerciáveis, que não podem ser importados (principalmente os serviços), as pressões inflacionárias poderão começar a incomodar o BC já no início do próximo ano.

As medidas adotadas foram medidas emergenciais, que se justificavam diante da situação por que passava a economia brasileira. Manter tais políticas por mais tempo oferece riscos significativos, tanto no curto quanto no longo prazo. No curto prazo, ao manter a excessiva liquidez no mercado financeiro, corre-se o risco de se criarem novas bolhas nos preços dos ativos que, ao estourar, acabam gerando novas crises. Da mesma forma, manter a agressividade na concessão de empréstimos por parte dos bancos públicos poderá levar ao aumento da inadimplência e à necessidade de capitalização destes bancos no futuro. Finalmente, a excessiva liquidez, combinada ao aumento do gasto público, acabará por gerar inflação e forçar o BC a retomar a trajetória de aumento dos juros antes do que seria desejável.

Em suma, está na hora de o BC e o governo começarem a desenhar estratégias de saída das medidas extraordinárias adotadas no período mais crítico. Medidas extraordinárias são adequadas para situações extraordinárias. Em períodos de normalidade, medidas extraordinárias geram efeitos colaterais graves (inflação, baixo crescimento, etc.), que acabam prejudicando seriamente o funcionamento da economia. É a volta à normalidade.

José Márcio Camargo é professor do departamento de economia da PUC/Rio e economista da Opus Gestão de Recursos