12/11/2008 - 10:00
Reportagens
Fotografia
Um fotógrafo no front
Exposição em Londres reúne 150 imagens de Robert Capa – muitas inéditas e também a mais celebre foto de guerra de todos os tempos
Ivan Claudio
É de autoria do fotógrafo húngaro naturalizado americano Robert Capa (1913-1954) uma das frases mais repetidas nos cursos de fotojornalismo: "Se suas fotos não estão boas é porque você não ficou próximo o suficiente (de seu objeto)." Foi seguindo à risca esse lema que Capa assinou imagens arrepiantes como A morte de um soldado republicano, que mostra o momento da morte de uma militante anarquista durante a Guerra Civil Espanhola, no dia 5 de setembro de 1936. Ou a série de sucessivos ângulos do desembarque dos soldados americanos no chamado Dia D, na praia de Omaha, na Normandia. A seqüência tremida e sem foco, feita no dia 6 de junho de 1944, foi reproduzida pelo cineasta Steven Spielberg na introdução do filme O resgate do soldado Ryan. Essas imagens e muitas outras inéditas, num total de 150 ampliações, estão lotando as salas da Barbican Art Gallery, em Londres, na mostra This is war! Robert Capa at work.
A observação desse conjunto impressionante de registros prova que foi por estar muito perto de seu assunto que Capa inaugurou o fotojornalismo moderno, quando o fotógrafo deixa de ser um observador para se tornar participante dos fatos. Mas foi devido a essa mesma intimidade com o tema e as pessoas enquadradas, fundamental para o desenvolvimento de ensaios fotográficos (reprodução total do desenrolar de um evento), que a autenticidade de A morte de um soldado republicano, a mais famosa foto de guerra de todos os tempos, passou a ser questionada. Desconfiava- se de que a imagem tivesse sido encenada, a pedido de Capa.
A exposição londrina ajuda a derrubar essa hipótese. Ela mostra toda a seqüência de instantâneos (40 ao todo) feitos por Capa naquele 5 de setembro e sugere que o soldado anarquista foi realmente alvejado. Isso pode ser concluído pelo fato de Capa mostrar o outro soldado que o socorreu, morto posteriormente na mesma colina.
Junto com as revelações dessa exposição, tornadas possíveis graças a descoberta no ano passado de 120 rolos de negativos tirados durante o conflito espanhol, acaba de ser lançado o livro 1936, el genocídio franquista en Córdoba, do historiador espanhol Moreno Gómez, que lança nova luz sobre aquele acontecimento trágico. Hoje sabe-se que o "soldado caído" chamava-se Federico Borell García, tinha 25 anos e era conhecido na sua aldeia como Taino. Estava com o casamento marcado. Outro soldado morto, retratado por Capa, continua
desconhecido. Trata-se de um mariner americano alvejado por alemães em Leipzig, no dia 14 de abril de 1945. Segundo Capa, esse foi o último combatente a morrer na Segunda Guerra e a imagem de sua agonia, registrada no exato momento de sua queda, exibe uma poça de sangue ainda quente no assoalho. Como aconteceu em 1954, ao morrer na Indochina, atual Vietnã, depois de pisar em uma mina, Capa estava bem perto do fato.