19/04/2006 - 10:00
Disputar uma Copa é o sonho de todo jogador. No Brasil, único país pentacampeão mundial e maior celeiro de craques do planeta, atingir esse objetivo, por causa da concorrência dura, é privilégio de poucos. Por isso, alguns brasileiros tomam uma decisão dolorosa: abrir mão da chance de vestir a camisa verde-e-amarela para disputar a competição por outros países. Se não houver contusões ou problemas de última hora, a Alemanha 2006 terá pelo menos oito brasileiros com cidadania reconhecida por outros países disputando o Mundial em equipes adversárias. Será um recorde. O meio campo Marcos Senna, ex-jogador do Corinthians, defenderá a Espanha. Outro meia, Deco, companheiro de Ronaldinho Gaúcho no Barcelona, será uma das estrelas de Portugal. O atacante Sinha jogará pelo México e Eduardo da Silva, pela Croácia. O lateral-esquerdo Alessandro Santos é titular da seleção japonesa. E os africanos da Tunísia contarão com o talento de dois atletas nascidos aqui, o atacante Francileudo e o lateral-esquerdo Clayton.
Até mesmo a dona da casa, a Alemanha, três vezes campeã do mundo, um reconhecido centro produtor de belos jogadores, terá no grupo um “pé de obra” brasileiro: o atacante Kevin Kuranyi. Nascido e criado até os 15 anos em Petrópolis (RJ), fã de Romário e torcedor do Flamengo, Kuranyi garante que não teria dramas de consciência insolúveis se marcasse um gol e fosse campeão mundial numa final contra o Brasil. “Seria difícil, mas outras alegrias trariam a compensação”, acredita. “Minha vida tomou outro rumo. Sou ídolo entre os alemães e preciso fazer o meu trabalho da melhor forma”, completa ele.
Outros craques da seleção emprestada não resolveram o dilema da mesma forma. Recentemente, o mais valorizado deles, o meia Deco, com os direitos de transferência avaliados em 30 milhões de euros (R$ 78 milhões), foi criticado pela imprensa portuguesa por ter declarado que “nunca deixou de se sentir também brasileiro”. Marcos Senna é outro que só admitiu defender a Espanha quando realmente percebeu que jamais seria lembrado para a seleção canarinho. Pelas regras da Fifa, quem joga pelo menos uma partida oficial por um país fica impedido de defender qualquer outro.
Além desses jogadores, quatro técnicos brasileiros irão trabalhar para outras equipes: Luiz Felipe Scolari, o Felipão (Portugal), Zico (Japão), Marcos Paquetá (Arábia Saudita) e Alexandre Guimarães (Costa Rica). A situação deles é mais leve, pois não precisam ter a cidadania do país para o qual trabalham e, no futuro, não serão impedidos de trabalhar pelo Brasil. Ainda assim, o sentimento às vezes fala alto. Zico, que já disputou três copas pelo Brasil, enfrentará a seleção comandada por Parreira no terceiro jogo da primeira fase, no dia 22 de junho. ‘Será duplamente difícil. Precisarei segurar os craques brasileiros e o meu coração”, diz. Há pelo menos uma vantagem na situação: a festa poderá ser feita com qualquer resultado.