Comprar o berço e preparar o enxoval são algumas das providências que os pais tomam quando sabem que terão um filho. Mas um novo item vem sendo inserido nessa lista: os preparativos para armazenar o sangue do cordão umbilical do filho a caminho. Nesse material, estão presentes células-tronco, as estruturas capazes de se transformar em vários tecidos do organismo. Por isso, são uma grande esperança da medicina. Teoricamente, elas poderão ser usadas para substituir células danificadas presentes em diversas partes do corpo, restaurando a função de órgãos como o coração e o cérebro. É por essa razão que centenas de novos papais estão querendo fazer essa espécie de “poupança biológica” para seus filhos. Na Cryopraxis, a líder entre as clínicas que oferecem o serviço de armazenamento de cordão, há sete mil cordões guardados e a média de procura tem crescido 30% ao ano.

O cordão umbilical não é a única fonte de células-tronco. Elas também são encontradas em abundância na medula óssea, responsável pela produção das células sangüíneas, e em embriões (chamadas de células-tronco embrionárias).
As que possuem maior maleabilidade para se transformar em qualquer tecido
são as embrionárias. Por enquanto, as que são extraídas do cordão são usadas apenas no tratamento de doenças que exijam um transplante de medula. O
objetivo do procedimento é “trocar” uma medula óssea defeituosa por outra,
feita a partir das células-tronco novinhas em folha retiradas do cordão. Uma das indicações dessa intervenção é o tratamento de leucemias, justamente o câncer
das células sangüíneas.

Entre as principais vantagens de aproveitar as células retiradas do cordão, uma é óbvia. “A possibilidade de usar as próprias células acaba com o risco de rejeição”, diz a bióloga Juliana Leal, responsável pela clínica Cellpreserve, outro laboratório especializado no congelamento de cordão umbilical. Elas também podem ser oferecidas a um irmão ou a qualquer outra pessoa que tenha um mínimo de compatibilidade genética com o doador. É o contrário das células-tronco extraídas da medula óssea. “Para que sejam doadas, é preciso que o receptor tenha compatibilidade perfeita”, explica o geneticista Carlos Alberto Moreira-Filho, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo. A instituição faz parte de uma rede de bancos públicos de armazenamento do cordão coordenada pelo Instituto Nacional do Câncer.

No entanto, há uma limitação importante no uso das células curingas. Se a doença a ser tratada com elas tiver origem genética, as células-tronco não poderão ser usadas. Afinal, elas carregam em seus genes o mesmo defeito. Seria a mesma coisa que tentar curar uma ferida causada por mordida de cobra injetando nela o veneno. É por isso que vários especialistas entendem que guardar o material pode não servir para nada. Muitos criticam ainda o que consideram uma exagerada expectativa em relação ao potencial de uso dessas estruturas.

De fato, muitos estudos ainda são necessários para que a terapia com células-tronco, de modo geral, esteja de fato acessível e indicada para diversas doenças, como se espera. “Ainda não há garantia de que elas serão úteis para tratar males como a diabete”, afirma Lygia da Veiga Pereira, uma das principais pesquisadoras do tema no País. Porém, a cientista compreende o ato dos pais. “Eles apostam no futuro. Mas só precisam saber que não estão comprando milagres”, pondera. Esse cuidado é mesmo importante. E vários casais, como o ator Rodrigo Faro e sua mulher, Vera, já o adotam. “As pesquisas estão muito no início e não sabemos no que vai dar. Mas temos grandes esperanças e é bom saber que, se nossa filha precisar, terá esse recurso”, argumentam os dois felizes pais de Clara, de nove meses, cujas células-tronco estão devidamente armazenadas.

Em média, no ato da coleta os pais pagam entre R$ 3,5 mil e R$ 5 mil.
Depois, são cobradas anuidades em torno de R$ 600.