Investigar o papel dos hormônios no organismo é um dos principais campos da ciência. Cada vez mais, descobre-se que eles têm funções múltiplas e, em muitos casos, sua reposição é vital para a saúde. A pesquisa mais atual trata da possível aplicação da testosterona – o hormônio responsável pelas características masculinas – no controle da esclerose múltipla, enfermidade que compromete diversas áreas cerebrais. Recentemente, cientistas da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, divulgaram que a administração de doses dessa substância por um ano a vítimas da doença pode ter contribuído para a não progressão do mal. A constatação levanta a hipótese de que o hormônio tenha um efeito protetor para as estruturas nervosas.

O trabalho junta-se a outros que mostram um potencial terapêutico da substância maior do que se imaginava. Em fevereiro, a própria Universidade da Califórnia mostrou um trabalho com 16 portadores de mal de Alzheimer, doença associada à idade. Durante três meses, um grupo usou um gel com testosterona. Os demais, placebo. Os médicos tinham notado que, nos pacientes, os níveis do hormônio eram baixos. Conclusão do estudo: os doentes tratados com o gel melhoraram bastante.

A testosterona é essa maravilha? Em certas situações, sim. “A partir dos 40
anos, o homem tem um declínio na sua produção. Se ele for acentuado, pode
ocorrer diminuição da libido e de energia. A reposição é indicada para quem tem esses sintomas. Mas só deve ser feita com a orientação médica”, alerta o endocrinologista Walmir Coutinho. O cuidado se justifica. Em altas doses, existe o risco de câncer de próstata.

O uso de hormônios contra doenças é um caminho promissor. E não apenas
com a testosterona. Recentemente, cientistas da Universidade de Yale (EUA) encontraram evidências de que a grelina, produzida no estômago, exerce influência sobre o hipocampo, área cerebral associada à memória. A grelina é um hormônio que age no cérebro para disparar a sensação de fome. Embora tenha sido feito
em ratos, o trabalho indica que esse hormônio poderá ser administrado no
combate de demência.

Outra novidade nesse campo é a obestatina, descoberta em novembro passado. Produzido pelas células de gordura, esse hormônio funciona como uma espécie de antigrelina. Ao ser injetado em roedores, os animais comeram menos. Achados desse tipo reforçam a importância do tecido adiposo como órgão hormonal. “A gordura era vista como depósito de energia. Agora, é considerada mais uma fonte de hormônios. Esse entendimento pode representar uma reviravolta na medicina”, diz o endocrinologista Amélio Godoy.

Isso não quer dizer que a reposição de hormônios será necessariamente o
caminho para usufruir das descobertas. É preciso pesar possíveis efeitos colaterais. A terapia de reposição hormonal para mulheres na menopausa, por exemplo, causou polêmica quando um estudo mostrou risco de males cardíacos e câncer de mama com uma das formas de tratamento, marcada por doses elevadas de estrógeno e progesterona. Na última semana, o tema ganhou destaque novamente. Um trabalho revelou que a terapia apenas com estrógeno não aumenta a chance de surgimento do tumor. De todo modo, os profissionais garantem: a prática é válida, desde que bem orientada.

Os hormônios, na verdade, estão envolvidos em tantos processos que já se recomenda um check-up dos seus níveis. A partir dos 40 anos, as mulheres devem avaliar as substâncias fabricadas pela tireóide (regulam a velocidade do metabolismo). Já para os homens, o ideal é verificar as taxas de testosterona depois dos 50. Nessa idade, eles podem medir o hormônio do crescimento (GH). Para elas, essa revisão começa aos 45. “A falta do GH nos adultos está associada ao desânimo. Às vezes, até médicos confundem o problema com depressão”, diz Luiz Antônio de Araújo, da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia. Sinal de que, de fato, ainda há muito a aprender.