Nos anos 60, eles tomaram conta das ruas dos EUA pregando muito sexo, drogas e rock’n’roll. Chamavam a atenção e faziam barulho a bordo de Harley-Davidsons, Pontiacs GTOs, Mustangs, Corvettes vintage e Camaros. Vestiam-se com muita roupa de couro e eram chamados de rebeldes sem causa à moda do personagem interpretado por Marlon Brando no filme O selvagem (1954). O tempo passou, eles saíram de cena por algumas décadas, envelheceram, mas não aposentaram de vez o seu estilo. E estão de volta às ruas, agora como cinqüentões e sessentões que novamente chamam a atenção com o arranque e o barulho de suas “máquinas” – motores vorazes e beberrões de seis e oito cilindros, e como sempre muito barulhentos. Há, no entanto, uma diferença. Essa geração que pregava a contracultura, mas sabia aproveitar o que a sociedade industrial tinha de luxo e conforto, agora pode aproveitar tudo isso melhor ainda. Motivo: eles enriqueceram.

Decidiram então voltar a curtir os seus “brinquedos” do passado. Somente em 2005, a casa de leilões Barrett-Jackson, uma das mais famosas dos EUA, vendeu um Pontiac Bonneville Special, ano 1954, por US$ 3,2 milhões. Na mais recente rodada de marteladas, um Plymouth Barracuda, de 1970, saiu por US$ 2,1 milhões. As duas máquinas milionárias foram arrematadas por senhores com mais de 50 anos de idade. “Na edição de 2006 de nosso leilão no Arizona, bati o recorde mundial de vendas de automóveis clássicos. Atingi US$ 34 milhões”, diz o leiloeiro Craig Jackson. Ao todo foram 140 mil ingressos vendidos para os quatro dias do evento. “Em mais de 30 anos de atividade, nunca vi tanto entusiasmo”, diz ele.

As “máquinas” mais procuradas nessa viagem alucinada são os chamados muscle cars (carros musculosos, numa tradução livre). São motores poderosos criados a partir de 1964 pelas grandes montadoras de Detroit e que tiveram produção interrompida na crise de energia de 1973. O legendário executivo automobilístico Lee Iacocca produziu para aquela geração o Mustang em 1964 e foram vendidas 400 mil unidades desse ícone sobre rodas. Mas os dias de farra viraram rotina familiar e muito trabalho para sustentar lar e filhos. Com a gasolina minguante e com preços inflacionados, milhões de Mustangs, GTOs, Road Runers e outros modelos de múltiplos cavalos no motor foram aposentados. Começava o império dos japoneses e seus automóveis compactos. “O que se vê agora é uma confluência de fatores que fazem borbulhar os hormônios daquela geração de jovens que hoje está com 50 ou 60 anos. Os filhos estão criados e veio a nostalgia dos tempos de juventude”, diz McKeel Hagerty, presidente da Hagert Insurance, uma seguradora de veículos com cerca de 400 mil carros clássicos em sua carteira. “Eles estão comprando e exibindo nas ruas, atualmente, as emoções do passado.”

As motos possantes também estão competindo pelo coração e pelo bolso dos cinqüentões. Na Orange County Choppers, fabricante de motocicletas de desenhos exclusivos, o velho Paul Teutul e seu filho Paul Jr. têm uma lista de seis meses a um ano de espera para “máquinas” com preços que chegam a US$ 200 mil. Seus negócios geraram o programa American choppers, um dos líderes de audiência do canal Discovery. “A média de idade dos consumidores de motos era de 32 anos em 1990. Atualmente a faixa é dos 50 anos”, diz Teutul. E não são apenas os homens que apelam para as duas rodas. As mulheres hoje representam 40% dos clientes de revendedoras de motos. Homens ou mulheres, o fato é que esses americanos voltaram a querer a sensação de aventura e liberdade, ainda que elas sejam no asfalto e em meio ao trânsito. É uma segunda vida para pessoas, e para automóveis e motos, que “fizeram” os anos 60 e 70.