O novo ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, desembarca nos Estados Unidos nesta quinta-feira 20 para participar da Reunião de Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. A estréia de Mantega em Washington fará inveja aos seus antecessores na pasta, Antônio Palocci e Pedro Malan. É a primeira vez, desde que o FMI socorreu o País com US$ 41,5 bilhões, em 1988, que o czar da economia brasileira chega ao encontro sem dever nada a ninguém ? literalmente: a dívida remanescente com o fundo, de US$ 15,5 bilhões, foi paga em janeiro, com dois anos de antecedência. A inflação está sob controle e os juros, em ritmo de queda. Na capital americana, Mantega discutirá com seus pares os desequilíbrios econômicos globais e as saídas para o crescimento. Mas essa é apenas a agenda oficial do evento. A novidade é que Mantega também vai se apresentar aos falcões do mercado financeiro internacional, em Nova York. Há menos de um mês no cargo, o ministro desperta curiosidade em Wall Street. Banqueiros e investidores querem saber quem é, o que pensa e o que pretende fazer o novo condutor da principal economia do hemisfério sul. Especialmente porque há chances concretas de o presidente Lula ser reeleito. Ao longo de seis dias, Mantega cumprirá uma extensa agenda de encontros com autoridades do primeiro time. Em Washington, na quinta-feira, conversa a sós com o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, e com o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz. À noite, tem um jantar privado com o diretor-geral do FMI, Rodrigo Rato, e com a diretora-adjunta, a durona Anne Krueger. O grande momento de sua estréia internacional será na manhã de sexta-feira, quando, diante de uma platéia de ministros da Fazenda e presidentes dos bancos centrais de 160 países, Mantega fará um pronunciamento sobre as reformas estruturais no Brasil e seus planos para estimular o crescimento. Em Nova York, na segunda-feira 24, o ministro vai almoçar com cerca de 200 executivos de empresas com investimentos no Brasil. Todos os olhos estarão voltados para o ministro. Ele já disse que nada muda na política econômica, mas o mercado quer ver para crer. ?O ministro vai sentir que os investidores que olham para o Brasil estão acompanhando de perto o que vai ser feito na parte dos gastos públicos?, adianta Ricardo Amorim, estrategista do Banco West LB, de Nova York, para a América Latina. ?A ascensão de Mantega provocou grande preocupação com a piora dos indicadores macroeconômicos. O temor é que ele ceda às pressões políticas e abra mão do equilíbrio fiscal?, acrescenta. Sempre há expectativas no mercado quando se muda o titular da economia de um país relevante. No caso de Mantega, a expectativa é ainda maior. Muitos analistas ainda o encaram como um sujeito meio perigoso, que sempre atacou a política monetária do Banco Central. Em Wall Street, há a percepção de que suas primeiras declarações foram contraditórias. Sua pré-estréia internacional, uma entrevista para o jornal inglês Financial Times, publicada há duas semanas, foi trágica. Mantega disse que as reformas estruturais já estão feitas e que o Brasil não precisa mais de ajuste fiscal. Em ano eleitoral, foram recados para os petistas. Mas pegou muito mal lá fora. Agora, ele terá a chance de colocar os pingos nos is. ?Sabemos que em ano eleitoral há um pouco de retórica nas declarações?, diz o economista Nuno Câmara, do Dresdner Bank. ?Mas é consenso que o processo de reformas não chegou ao fim, está apenas começando. Queremos saber se vai continuar no próximo governo.? O antecessor Antônio Palocci teve mais sorte. Em seus três anos à frente da economia, só pegou céu de brigadeiro no Exterior. Mantega chega num momento em que o mercado vive uma pequena oscilação, com o Brasil na contramão da política monetária internacional. Os juros estão subindo nos EUA, no Japão e na Europa ? e caindo por aqui. Significa que, se é para ganhar quase a mesma coisa, os investidores preferem a aposta mais segura, os títulos do governo americano. A última vez que o banco central Federal Reserve subiu seus juros de forma relevante, em 1994, houve a crise do México. Os radares começam a emitir alertas de possíveis turbulências futuras nos países emergentes. Neste momento, o mercado volta a prestar atenção no ministro brasileiro. Quer saber, em especial, se a gestão Mantega está gastando mais do que deveria. Por isso, sua escala em Wall Street poderá incluir uma conversa fechada com meia dúzia de falcões americanos para esclarecer todas as dúvidas. Pode virar o ponto alto de seu début internacional.