12/04/2006 - 10:00
Crimes julgados em tribunais do júri rendem best sellers e filmes inesquecíveis em todo o mundo. No Brasil, o advogado e professor paulistano Paulo José da Costa Jr. participou de 230 julgamentos, muitos deles com grande repercussão. Nesta semana, chega às bancas o livro Os júris da minha vida (Arx, 256 págs., R$ 39,90), em que ele reúne os 48 casos que considera mais importantes e rumorosos em sua carreira. São histórias de arrepiar, temperadas com esquartejamentos, crimes a machadadas, corpos queimados e até um assassinato cometido por uma mãe com a ajuda dos filhos.
A prostituta Neide Fagundes, nome profissional adotado por Terezinha de Jesus, foi uma das que deram trabalho a Costa Jr. Ela fazia programas na praça Júlio Mesquita, centro de São Paulo, no final dos anos 60. Tinha um policial como cafetão e apanhava dele sempre que a féria da noite não o satisfazia. Numa manhã, depois de mais uma surra, derramou querosene do fogareiro sobre o policial, riscou o fósforo e o matou queimado. “A promotoria queria pena máxima. Defendi a tese do homicídio motivado por algo além da intenção”, diz o advogado. “Ela pegou apenas quatro anos, muito pouco para a situação.”
Meses depois, Neide, revoltada com a cadeia, ofendeu o advogado. “Quero sair daqui, o senhor não presta.” Magoado, Costa Jr., que não cobrara pelo serviço, abandonou o caso. Tempos depois, um homem o procurou para falar sobre Neide. Era eletricista na penitenciária em que ela estava. “Estamos namorando e eu quero me casar. Mas ela disse que só aceitaria se eu pedisse a mão e recebesse autorização de um certo doutor Paulo José, que ela considera o seu pai”, disse o rapaz. “Penei para achá-lo. O senhor deixa?” Costa Jr. e o diretor da cadeia foram os padrinhos do casamento.
Outro ponto alto do livro é o caso de Florinda Alves, a Esquartejadora da Casa Verde. Após uma discussão pesada, ela foi ameaçada com uma navalha por seu marido, José Alves. Enquanto ele caminhava em sua direção, na casa modesta do bairro da zona norte de São Paulo, ela passou a mão num martelo jogado na prateleira acima do fogão. Cinco marteladas e José estava morto. O filho de nove anos assistiu a tudo. Com a ajuda do amante e da irmã, uma enfermeira, Florinda separou a cabeça e as pernas do corpo, acomodou as partes em três malas e jogou cada uma em um ponto diferente do rio Tietê. No tribunal, Costa Jr. alegou que ela sustentava a casa e cuidava do espaço com muito zelo, revelado em detalhes, bordados e enfeites. E arrematou: “Pudera eu ter uma mulher assim.” No primeiro julgamento, por seis votos a um, Florinda foi absolvida do crime, por legítima defesa. Sobrou apenas uma condenação de dois anos, por ocultação de cadáver. “O melhor elogio foi o do promotor, no encerramento. Ele disse: ‘O esquartejado fui eu.’”
Há também curiosidades históricas. Para defender Maria Campos Rondon, que matou o marido a machadadas, Costa Jr. contou com a ajuda do advogado Blota Jr., que depois se tornaria um dos mais importantes apresentadores da televisão brasileira. Os dois livraram a ré no primeiro julgamento. As histórias de Os júris da minha vida eletrizam o leitor e são uma prova de que nem mesmo os melhores roteiros de ficção são capazes de superar a realidade.