12/04/2006 - 10:00
Bruno Senna Lalli, 22 anos, está de olho na máquina de lavar que sacode o seu único macacão, já puído e sujo. Há um acúmulo de manchas de champanhe, derramada por vitórias consecutivas nas três últimas etapas da Fórmula 3 australiana, no circuito de rua de Albert Park, em Melbourne. O feito significa algo bem mais importante do que a revelação de outro talento brasileiro no automobilismo. O primeiro sobrenome dá a pista definitiva. Filho de Viviane Senna, Bruno é sobrinho do maior ídolo que o País produziu na história desse esporte: o tricampeão mundial de Fórmula 1 Ayrton Senna. Por coincidência, foi na Austrália que o tio ilustre do rapaz conquistou sua última vitória, em novembro de 1993, meses antes de morrer, em 1º de maio do ano seguinte. “Preciso pedir outros macacões aos patrocinadores. Este está imprestável”, disse ele rindo a ISTOÉ na quarta-feira 5, no flat alugado em que mora sozinho no bairro londrino de Queensgate.
Apesar de ter conquistado os primeiros pódios de sua vida, ele enxerga as provas na Austrália como aquecimento. Seu objetivo é fazer um bom papel na segunda temporada pela competitiva Fórmula 3 inglesa, uma das principais escalas para desembarcar na Fórmula 1, um percurso que, por sinal, foi seguido por Ayrton. Na Inglaterra, colocará sua genética à prova pela equipe Raikkonen-Robertson. “Tenho sede de resultados”, diz ele, transparecendo a mesma obstinação do tio. Quando decidiu correr, sua mãe se surpreendeu e achou que “era fogo de palha” de um menino de 18 anos que acabara de tirar carta e ganhar um Audi S3 da família. Engano. Ele já corria de kart, mas ficou literalmente grande demais para caber no cockpit do carrinho. Com 1,80 m de altura, ficava exposto a contusões. Chegou a fraturar seis costelas no kart.
O ex-piloto austríaco Gerhard Berger, amigo do tio, o aconselhou a partir para os carros de verdade. A mãe e a família, que resistiam no início por razões óbvias, renderam-se aos desejos do menino. “Com um legado destes nas minhas costas não dá para brincar”, reconhece. Ele diz que jamais pensa na tragédia que matou o tio no circuito de Imola, na Itália. “Não tenho medo, mas também não vou me jogar nas curvas.” Nada o desvia de seus objetivos. “Não me interessam o ambiente, as festas e o glamour da F-1. Quero mesmo pilotar os melhores carros do mundo na categoria e viver disso.” Bruno, como se vê, lembra o tio preferido em muitas coisas. Tomara que a genialidade nas pistas se confirme como a principal semelhança.