Ele vai correr pra lá e pra cá, suar muito, não pode errar e estará em campo na Copa do Mundo com a mesma ambição de todos os jogadores: fazer uma boa atuação. Todas essas coincidências não trazem ao gaúcho Carlos Eugênio Simon, porém, a possibilidade de voltar para o Brasil como herói. Como participou do Mundial de 2002, na Coréia do Sul e no Japão, ele será o primeiro árbitro brasileiro a trabalhar em duas copas. Dizem que é um craque no apito, o que não comove nenhum torcedor, para quem, na suprema maioria dos casos, o árbitro impede a vitória de seu time. Não é nada pessoal, mas todos os brasileiros torcerão de forma ardorosa e incondicional para que Simon não realize seu sonho profissional de apitar a decisão. O motivo é simples: a presença dele na final significará necessariamente a ausência do Brasil.

Ele sempre foi um apaixonado por futebol. A primeira experiência como árbitro aconteceu por acaso. Numa competição no colégio, na falta de um juiz, lá foi ele servir de sparring na mais xingada posição em campo. Saiu-se bem, recebeu elogio do professor (“você leva jeito para ser árbitro”) e ficou com aquilo na cabeça. Antes de colocar o incentivo do mestre em prática, estudou jornalismo. Já escreveu um livro sobre as regras de jogo – Na diagonal do campo –, diz que fica sem dormir quando comete um erro e aponta a regra do impedimento como a mais polêmica do futebol. Ele não fala, mas com certeza deve saber que esta lei estimula as ofensas à mãe do juiz e o coro de “ladrão, ladrão”. Eventualmente, cria para o árbitro também a necessidade de deixar o estádio num camburão. A propósito, ele passou por um aperto parecido no dia 1º de abril, depois do jogo entre Grêmio e Internacional, o chamado Grenal, em Porto Alegre. A violência rolou solta na partida e, depois do apito final, Simon deixou o gramado protegido por policiais.

Faz parte do ofício que já lhe deu, pessoalmente, muitas glórias, como em sua estréia na Copa Libertadores, no jogo Cerro Porteño x Bolívia, em que nenhum cartão foi tirado do bolso. Ele também precisa treinar e apurar a forma, pois numa partida corre como um jogador. Engordou, cai fora. No teste físico para a Copa, o árbitro precisa executar 20 piques de 150 metros num tempo de 30 segundos – cada pique, evidentemente. Não é fácil, como não foi fácil acompanhar a trajetória do presidente que recebeu o seu voto. Dizem suas biografias que ele foi filiado ao Partido dos Trabalhadores – hoje alvo de cartões de todas as cores.