Seu hábitat natural é o bastidor. Em suas sombras, os homens do PFL se movem desenvoltos, distinguem atalhos e se protegem dos perigos. Agora, também mostraram que têm sorte. Com dois governadores eleitos em 2002, na Bahia e em Sergipe, o partido dobrou sua força ao herdar os governos de São Paulo e Pernambuco, onde os titulares deixaram seus cargos para participar da eleição. De quebra, ficaram também, pelo mesmo motivo, com a prefeitura da maior cidade do País. Um salto espetacular, num só movimento, que leva o presidente nacional da legenda, Jorge Bornhausen, a esfregar as mãos diante das oportunidades abertas pela política de alianças que ele coordenou. “Fizemos a melhor oposição fiscalizadora ao governo corrupto e incompetente do PT e soubemos trabalhar ao lado de ótimos parceiros. Agora, colhemos alguns dos frutos da nossa competência”, diz. Em suas contas, o PFL vai crescer – e muito –, elegendo cerca de 100 deputados federais em outubro. Um ganho de quase 40% em relação aos atuais 64 parlamentares. “A lipoaspiração do mensalão nos tirou quase 20 deputados. Agora, eles devem estar arrependidos”, diverte-se Bornhausen. Ele tem mais um motivo para sorrir: os mais de três minutos que o PFL possui no horário eleitoral gratuito. Tempo que será somado ao do PSDB na coligação que está sendo costurada para a disputa pela Presidência da República. Nesse caso, o PFL tem nos senadores José Jorge (PE) e José Agripino Maia (RN) dois dos nomes mais cotados para ser vice do tucano Geraldo Alckmin. O cacique do pefelê, como o partido é chamado em Brasília, trabalha para atrair o PMDB, no que chama de “tríplice aliança”. Parece estar disposto, até mesmo, a coordenar conversas que desagüem num vice peemedebista. Mas é prudente não apostar muitas fichas nessa cartada. Mais seguro é acreditar que o presidente do PFL esteja atuando discretamente para ele mesmo compor a chapa com o ex-governador tucano. “Não estou me incluindo nem me excluindo. Eu estou ouvindo”, disse Bornhausen a ISTOÉ. Uma chapa paulista-catarinense, porém, teria mais dificuldades de captar votos no celeiro nordestino. E é justamente no Nordeste que o PFL tem suas forças mais enraizadas.

Lá estão, na Bahia e em Sergipe, os governadores eleitos Paulo Souto e João Alves. Juntou-se a eles, agora, em Pernambuco, o vice Mendonça Filho, que assumiu o poder depois que Jarbas Vasconcelos (PMDB) saiu para disputar uma vaga no Senado. Tratado por Mendoncinha, ele já se prepara para uma batalha contra os ex-ministros Humberto Costa (PT) e Eduardo Campos (PSB) para se manter no Palácio das Princesas. “Somos um partido consolidado que vai saber aproveitar a chance para crescer”, diz o novo governador. “Nossas administrações são bem avaliadas, ao contrário do que dizem os nossos adversários. Eles terão, agora, mais uma chance de entender isso.”

Esse espírito também parece nortear outro pefelista que tirou a sorte grande em São Paulo: o novo prefeito paulistano, Gilberto Kassab. Ao completar dez dias no poder, desde que o tucano José Serra deixou o cargo para concorrer ao governo do Estado, Kassab já começa a mostrar que não será um simples cumpridor dos acordos com os tucanos. Ele não mexeu no secretariado, mas trabalha decididamente na Câmara para atrair meia dúzia de vereadores e criar uma bancada que lhe permita manobras mais radicais. Seus auxiliares, desde já, acreditam que Kassab é hábil o suficiente para transformar os dois anos e nove meses de mandato que tem pela frente numa plataforma segura para sua própria reeleição. “Por que não?”, pergunta um deles.

Nesta segunda-feira 10, o presidente Bornhausen desembarca em São Paulo para conversas ao pé do ouvido com seus sortudos correligionários. Além de dar as notícias sobre a sucessão presidencial, vai incentivá-los a deixar as marcas do partido, que ocupa a faixa política que vai da direita ao centro, em suas administrações. Esse papel de conselheiro experiente também vai sendo exercido pelo ex-vice-presidente Marco Maciel, fundador da legenda que teve seu poder renovado pelos últimos acontecimentos. Afinal, Maciel é um dos mais antigos interlocutores do novo governador Lembo. Neste momento, a missão em que ambos estão mais empenhados é a de fazer o empresário Guilherme Afif Domingos vice na chapa de Serra para o governo do Estado. Afinal, eles sabem que ser vice pode ser um grande negócio.