16/09/2009 - 10:00
Há exatamente um ano, no dia 15 de setembro, explodiu no mercado financeiro internacional a notícia da quebra do Lehman Brothers, o quarto maior banco americano. A crise econômica que se iniciara no setor hipotecário dos Estados Unidos espalhou-se por todo o mundo, num dramático efeito dominó. Mas o Brasil sofreu menos do que a maioria.
Na sexta-feira 11, o IBGE anunciou que o PIB nacional cresceu 1,9% no segundo trimestre, confirmando que o Brasil é o primeiro país a deixar a recessão para trás. Do alto desse excelente resultado, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em entrevista à ISTOÉ, destaca que a economia brasileira recuperou-se rapidamente, na forma de um V. "Crescemos 5% em 2008, vamos crescer 1% em 2009 devido à crise e voltaremos a crescer 5% em 2010."
O ministro prevê que, a partir do ano que vem, o País entrará num novo ciclo virtuoso de crescimento. E desde já faz uma aposta: "O desempenho da economia será, sem dúvida, um grande cabo eleitoral em 2010." Segundo Mantega, "o brasileiro, hoje, vê a crise com segurança, não fica mais assustado".
ISTOÉ – Que balanço o sr. faz depois de um ano de crise econômica?
Guido Mantega – Foi uma crise muito séria, afetou todos os países, mas, felizmente, afetou menos o Brasil. Para o Brasil, é como se essa crise tivesse sido menor do que a crise da Ásia, em 1997, e da Rússia, em 1998. No passado, aqui também houve forte repercussão, com muitos problemas criados. A economia caminhou para trás. A primeira desvalorização forte do real ocorreu em razão de uma crise dessas. Agora, apesar de ser uma crise de maior envergadura, trouxe repercussões menores. Foi feita uma pesquisa com a população brasileira e de outros países sobre os impactos da crise. No Brasil, mais de 60% da população disse que sentiu pouco. No Nordeste, onde há maior concentração de pobres, o nível de consumo continuou elevado e o de emprego também.
ISTOÉ – Há quem afirme que ainda não é possível dizer que a crise acabou. Diz-se também que a recuperação pode ser em forma de U ou de W.
Mantega – Nem U nem W, a nossa curva de recuperação é em V. Crescemos 5% em 2008, vamos crescer 1% em 2009 devido à crise e voltaremos a crescer 5% em 2010. É um V perfeito. Tivemos um primeiro trimestre negativo, mas o segundo foi positivo. Já estamos no azul. Neste segundo semestre a economia brasileira está em franco crescimento. É uma retomada lenta, porque a indústria exporta 25% do que fabrica. E as exportações caíram. Já a produção para o mercado interno vai muito bem, o que equilibra o jogo. A partir de 2010, devemos entrar num novo ciclo virtuoso.
ISTOÉ – Esse desempenho da economia terá influência nas eleições de 2010?
Mantega – Será fundamental, porque o crescimento determina o padrão de vida da população, a redução da pobreza, a respeitabilidade do País, a solidez e a tranquilidade. No passado, o brasileiro era um povo intranquilo, porque qualquer crise nos afetava. As pessoas que tinham consciência ficavam com medo. Nós conquistamos um fator muito importante: a estabilidade emocional. O brasileiro ganhou muito. Hoje, ele vê a crise, mas com segurança. Não precisa ficar mais assustado. O desempenho da economia, sem dúvida, será um grande cabo eleitoral em 2010.
ISTOÉ – O fluxo de crédito já foi normalizado?
Mantega – Não se pode dizer que está normal, mas está quase normal. Nós conseguimos reativar o crédito. As grandes empresas conseguem crédito à vontade. As médias empresas um pouco menos e as pequenas têm as dificuldades de sempre. A taxa básica de juros é uma das mais baixas e o spread ainda está elevado e poderia cair mais. Mas estamos no caminho certo. O spread nos últimos meses tem caminhado para patamares razoáveis. Considerando que o Brasil nunca foi razoável em matéria de juros, posso dizer que, dentro de nossa anomalia, estamos caminhando para a normalidade.
ISTOÉ – Comenta-se que, na devida proporção, o governo brasileiro gastou muito mais para enfrentar a crise do que outros países. É verdade?
Mantega – Isso é totalmente errado. O custo do programa de estímulo que o Brasil pôs em prática é um dos mais baratos de todos os países. Basta ver a estatística do Financial Economics Crisis, que mostra os pacotes fiscais em relação ao PIB. A China fez o maior pacote, com 13% do PIB, nos Estados Unidos foram gastos 5,6% do PIB e no México, 4,7%. No Brasil, atingimos algo entre R$ 30 bilhões e R$ 35 bilhões, em desoneração e equalização, ou seja, ficamos um pouco acima de 1% do PIB.
ISTOÉ – A desoneração fiscal tem mesmo prazo para acabar?
Mantega – A redução do Imposto de Renda da pessoa física deve ser definitiva. Mas os abatimentos de IPI têm um cronograma. No caso dos automóveis, vai terminar de forma escalonada. São três meses para voltar ao que era antes. Vamos analisar para ver o que acontece. O estímulo aos produtos da linha branca termina no dia 15 de outubro.
ISTOÉ – O governo não teme um impacto negativo no setor automobilístico com o fim da desoneração e o aumento do aço?
Mantega – Não há aumento de preço na siderurgia. Nós fiscalizamos cada passo desse setor. Os preços do aço caíram. Quando os jornais divulgaram aumentos, liguei para os empresários e perguntei: "Vocês estão subindo o preço?" Eles me responderam: "De jeito nenhum." Isso é apenas técnica de mercado. Então, falei: "Se subir o preço, vou baixar a alíquota de importação de aço." Não estamos desonerando para aumentar o lucro do produtor, mas, sim, para que chegue ao consumidor, o que está acontecendo