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Fundo do mar O Paleodictyon nodosum foi encontrado no Atlântico a três mil metros de profundidade

Quanto tempo um cientista deve despender na busca de respostas a uma questão que, muitas vezes, ele mesmo se propôs? Para o oceanógrafo americano Peter Rona, da Universidade de Rutgers, esse tempo de dedicação, se necessário, pode ser a vida inteira.

Até certo ponto, isso é um modo figurado de se expressar, mas convenha-se que três décadas de pesquisas mostram, e bem, a perseverança de um cientista. Pois foi exatamente ao longo de 33 anos que Rona submergiu, inúmeras vezes, a bordo de submarinos, na região norte do Oceano Atlântico, próximo dos EUA, ultrapassando a marca de três mil metros de profundidade.

O seu objetivo era solucionar o seguinte mistério: o que seriam aqueles segmentos hexagonais, extremamente porosos, que se expunham a seus olhos? De que seria composto aquele estranho chão oceânico? De tão inusitados, chegou a cogitar, por um breve período de tempo, de que se tratava de pegadas de seres extraterrestres.

Essa suposição, imaginativa demais, logo se afogou diante da racionalidade da ciência. Rona intuía que poderia estar prestes a descobrir uma raridade da natureza ou, mais precisamente, da cadeia de evolução das espécies.

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Ele poderia estar diante de um "fóssil vivo", expressão cunhada pelo naturalista Charles Darwin, que assim definia seres que biologicamente evoluíram, rareando-se em complicados ecossistemas e mantendo-se na aparência extremamente iguais a seus antepassados.

A bordo de um submarino munido de sofisticados equipamentos de escavação do fundo do mar, Rona conseguiu remover camadas desse solo. Durante essa operação ele constatou, estupefato, que os arranjos hexagonais formavam um sistema de túneis e galerias.

Mais: ele descobriu que os segmentos desse solo, nessa parte do oceano, são formados por fósseis da espécie Paleodictyon nodosum que se estimava extinta há mais de 50 milhões de anos. Ou seja: o fato de existir um chão formado por esses fósseis, que se expandem feito casulos, levou Rona e a comunidade científica a concluir que na região norte do Atlântico há fortes indícios de existência de um raríssimo "fóssil vivo".

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No caso, esse fóssil se compõe de exemplares de Paleodictyon nodosum, que, justamente por viverem em condições extremas no fundo dos oceanos, acabaram protegidos dos ciclos predatórios, se desenvolveram biologicamente, mas se conservaram, do ponto de vista morfológico, praticamente idênticos a seus ancestrais.

"Considero o momento da descoberta como algo excepcional", diz Rona. "Não se trata de qualquer fóssil, mas, isso sim, de uma demonstração de uma forma de vida muito complexa", diz Adolf Seilacher, paleontólogo da Universidade de Yale.

"Esse animal monta galerias e túneis e sabemos que seus parentes mais longínquos no tempo datam de cerca de 500 milhões de anos."