28/01/2004 - 10:00
O rosto é a primeira parte do corpo que você vê quando se olha no espelho. É também a primeira coisa que os outros vêem quando olham para você. É por isso que os tratamentos para a face se multiplicam. São lasers, preenchedores, cirurgias plástica e cremes – muitos cremes – cada vez mais modernos e que têm em comum o objetivo de melhorar a aparência sem que seja necessário se submeter a uma intervenção mais complexa. “As pessoas não querem ficar marcadas pelos tratamentos”, explica a dermatologista Patrícia Rittes, de São Paulo. E é para fazer mais, aparecendo menos, que a medicina estética se desdobra. Um dos recursos mais usados são os cremes e protetores solares, tão sofisticados quanto um remédio de última geração. A novidade entre os bloqueadores é um produto com antioxidantes, compostos que combatem o envelhecimento precoce. “Eles induzem à produção de substâncias benéficas”, diz Maria Victoria de Souza, diretora da Sociedade Brasileira de Medicina Estética. O Heliocare, trazido ao País pela Melora do Brasil, existe nos formatos creme, pó compacto e base.
A mesma empresa é responsável pela chegada de outra novidade. O Endocare, lançado este mês, é um creme feito à base da secreção de um molusco (Cryptomphalus aspera) que teria grande capacidade regenerativa. “Ele ajuda na recuperação de queimaduras e dos efeitos de radiação”, explica Glauber Cipriani, diretor-técnico da Melora. A dermatologista Monica Fiszbaum, de São Paulo, está experimentando o produto. Segundo ela, o Endocare tem um bom efeito na recuperação da cútis depois de peelings, procedimentos que fazem uma escamação da derme. A princípio, o cosmético é de uso restrito aos consultórios. Mas, se for mesmo bom, provavelmente terá suas indicações ampliadas e fará a alegria de quem puder desembolsar R$ 150, seu preço estimado.
No esforço para resultados naturais, outro artifício que ganha espaço são os preenchedores. Feitos com as mais diversas matérias-primas, eles atenuam rugas e sulcos, entre outras coisas. “Em casos de flacidez leve, são uma boa opção à cirurgia”, garante o cirurgião plástico Munir Curi, de São Paulo. Um dos preenchedores preferidos é o PMMA. “Ele é definitivo. Não é absorvido pelo organismo e permite um trabalho de precisão”, diz Curi. Outro preenchedor que tem sido usado com sucesso é a gordura. Tira-se um pneuzinho ou diminui-se o culote e ganha-se um preenchimento na face. “Extraímos a gordura, do joelho ou da coxa, por exemplo, e a colocamos na área a ser preenchida, como a bochecha”, explica o cirurgião Leonard Bannet, de São Paulo. A cantora Simony, 27 anos, fez preenchimento no lábio. “Não ficou a boca da Daniella Cicarelli, mas adorei”, garante. Mas foi no queixo a principal mudança. Ela fez um preenchimento para aumentá-lo.
Até os lasers usados para fazer peelings estão sendo substituídos por alternativas menos agressivas. Esses raios fazem uma escamação intensa, o que exige pelo menos dez dias de recuperação. Por isso, no seu lugar está-se usando muito a chamada luz pulsada, mais delicada. O cool-touch faz parte desta categoria. É responsável por um tratamento tão leve que o paciente sai do consultório sem marcas. Outra alternativa é o Therma cool, aparelho que funciona por meio de radiofrequência. Segundo o fabricante, as ondas atingem as camadas profundas da pele, promovendo uma contração do colágeno (fibra que dá sustentação à pele), o que garantiria mais firmeza à derme. “Ele é indicado para flacidez na face numa idade entre 35 e 55 anos. Depois disso, geralmente, já é necessário um tratamento mais forte”, explica a dermatologista Ana Lúcia Recio, de São Paulo. Um dos problemas do Therma Cool, porém, é o preço. Uma aplicação custa entre R$ 3 mil e R$ 5 mil.
Na era do efeito “naturalmente lindo”, quem continua agradando médicos e pacientes são as toxinas botulínicas, substâncias que promovem uma paralisação muscular temporária, deixando a pele mais lisa. São ótimas soluções para amenizar as rugas da testa, do contorno dos olhos e até do pescoço. Seu sucesso é tão grande que a maioria dos tratamentos tem esse composto na receita. O DMAE também é presença constante nos pacotes de rejuvenescimento. O produto causa uma pequena hipertrofia na pele (não do músculo) e costuma ser usado em máscaras. Mas quando nenhum desses artifícios bastar e for preciso recorrer ao bisturi, ainda há a possibilidade de se submeter a um minilifting. Trata-se de uma intervenção cirúrgica que estica a pele do rosto, mas na qual o corte é feito apenas no contorno da região desejada. Dessa maneira, o tempo de recuperação é menor e o resultado mais discreto. E há ainda o lifting com fio russo. Seu efeito é semelhante ao do lifting comum, mas sua realização é diferente. Os fios são do mesmo material de fio de sutura, mas aderem à pele. Eles são aplicados na camada de gordura e fazem uma tração. Apesar de o procedimento parecer complexo, o paciente não leva pontos nem precisa de tempo de recuperação. De acordo com o cirurgião plástico José Antônio Beramendi, do Rio de Janeiro, nos dois anos seguintes o resultado fica ainda melhor. “Os fios vão fazendo mais tração, atenuando
os efeitos da lei da gravidade”, afirma.
Sem mágica
A dermatologista Denise Steiner lançou recentemente o livro Beleza levada a sério (Ed.Celebris). Nele, a médica, que acaba de assumir o Departamento Científico do Colégio Ibero-Latino-Americano de Dermatologia, fornece um guia de como cuidar do rosto e do corpo sem cair nas armadilhas dos tratamentos milagrosos. Ela falou a IstoÉ.
ISTOÉ – Existem cuidados básicos esquecidos na hora de cuidar do rosto?
Denise Steiner – As pessoas fazem peeling, aplicam toxina botulínica, mas ainda não usam protetor solar nem fazem hidratação no dia-a-dia.
ISTOÉ – O exagero na oferta de tratamentos acaba atrapalhando?
Denise – Sim. Algumas pessoas não sabem que os tratamentos devem, necessariamente, ser aplicados por médicos.
ISTOÉ – Quando se deve desconfiar de um creme ou de um tratamento?
Denise – Quando eles prometem resultados mágicos. Se informar sobre o que está sendo usado e o preço de mercado também ajuda. Aplicação de toxina botulínica a preço muito inferior, por exemplo, pode ser golpe. Tem gente diluindo produtos, o que faz o efeito durar muito menos.
ISTOÉ – Qual o limite para o tratamento antienvelhecimento?
Denise – Bom senso. Muitas vezes precisamos conter os desejos exagerados dos pacientes e adequar sua expectativa ao que realmente os métodos podem fazer.
ISTOÉ – O que tem gerado mais problema nos tratamentos para o rosto?
Denise – Os preenchedores. De tempos em tempos aparece um novo, mas muitos não têm pesquisas que comprovem a sua segurança.