28/01/2004 - 10:00
Perto de completar três anos à frente do governo de Israel, o primeiro-ministro Ariel Sharon enfrenta sérios problemas, que colocam seu cargo em risco. Na política externa, a construção do polêmico muro que separa a Cisjordânia de Israel implicou condenações internacionais múltiplas (com direito até a futuro julgamento no Tribunal Internacional de Haia sobre a legitimidade do muro), no plano interno, as coisas não melhoram. Agora surgem denúncias de corrupção e a possibilidade de um inquérito policial contra o premiê que aumentam as especulações sobre uma possível renúncia do líder israelense, com mandato previsto até 2007. O escândalo veio à tona na quarta-feira 21, quando o empresário israelense David Appel foi formalmente indiciado pela corte de Tel Aviv por tentativa de suborno de Sharon e de seu filho Gilad. Sharon não foi formalmente indiciado, mas já começa a sentir o peso de ser o primeiro primeiro-ministro de Israel a ter o nome citado em um inquérito criminal.
O inquérito impetrado por procuradores israelenses remete ao ano de 1999, quando Sharon era ministro das Relações Exteriores. À época,
o empresário Appel, ativista político e contumaz financiador do partido conservador Likud – do qual o premiê é líder–, enfrentava problemas
na compra de diversas ilhas gregas onde pretendia construir um resort. O inquérito acusa o empresário de ter contratado o filho de Sharon, Gilad, em troca de favorecimentos na construção de empreendimentos em Israel. Gilad não tem qualificações para a remuneração do emprego, mas receberia um salário de US$ 100 mil mensais para pesquisar
costumes de turistas de outras nacionalidades. O inquérito também afirma que Appel deu cerca de US$ 580 mil (de um montante que, em contrato, chegaria a US$ 3 milhões) para o rancho da família Sharon, que mantém negócios ligados à agricultura. A possibilidade de o primeiro-ministro ser formalmente indiciado é alta. “Sharon poderia e deveria ser indiciado nas próximas duas semanas”, afirmou a procuradora Edna Arbel a uma televisão israelense.
Fiel a seu estilo agressivo e desafiador, Sharon negou as acusações e não admitiu a hipótese de renúncia. “Eu sou primeiro-ministro de Israel e líder do Partido Likud. E essa é uma posição que eu pretendo manter, no mínimo, até 2007”, afirmou o premiê. Mas, se
de fato o indiciamento se concretizar, é quase certo que a permanência de Sharon no cargo se torne insustentável. O primeiro-ministro israelense já havia sofrido a acusação de receber US$ 1,5 milhão de doação de um estrangeiro para sua campanha nas primárias de 1999. Diante dos escândalos, líderes da oposição se apressaram em pedir a cabeça do mandatário israelense. “Ele deveria ter renunciado assim que os indícios começaram a surgir. Sharon está poluindo a atmosfera”, atacou Avraham Shochat, membro do oposicionista Partido Trabalhista e ex-ministro da Economia. A última pesquisa publicada pelo respeitado jornal Haaret’z mostra que 64% dos entrevistados são favoráveis à sua renúncia, caso seja provado seu envolvimento na lama da corrupção. A oposição no Knesset (Parlamento) estuda entrar com uma moção de não-confiança contra o primeiro-ministro.
Analistas políticos chamam a atenção para o silêncio do Partido Likud e da coalizão que sustenta politicamente Ariel Sharon. Estão quietos demais. Talvez por isso, já começaram a pipocar especulações acerca de um possível sucessor dentro do Likud. Se, como pediu publicamente o ex-premiê trabalhista Shimon Peres, Sharon não apresentar sua versão dos fatos, é possível que ocorra uma ruptura na coalizão governista. Atualmente, Sharon detém 68 dos 120 assentos do Knesset. O partido secular Shinui, que detém 15 assentos no Parlamento e mantém uma tradição de exigir governos limpos, pode deixar o governo.