28/01/2004 - 10:00
A história da Parmalat do Brasil começa a sair das páginas de economia dos jornais para se juntar às matérias da seção policial. Desde que Gianfranco Bocchi, contador da matriz na Itália, afirmou que uma montanha de dinheiro teria sido enviada a duas subsidiárias do grupo no Brasil, a Carital e a Winshaw, a situação da filial piorou bastante. Na quarta-feira 21, o governo colocou a Polícia Federal no caso. Os inquéritos policiais deverão começar a pipocar nos próximos dias com a apuração das suspeitas de crimes de lavagem de dinheiro, remessas ilegais, sonegação fiscal e fraude contábil.
Os indícios de maracutaias envolvendo a matriz e a filial brasileira já haviam chamado a atenção da Receita Federal, que vinha rastreando toda a movimentação financeira e fiscal do grupo no País. Mas com a ordem do ministro da Justiça, Márcio Thomas Bastos, a situação começa a ficar bem mais séria. A primeira medida será quebrar os sigilos bancário e fiscal das empresas do grupo e dos diretores e pessoas vinculadas à subsidária brasileira. O ministro quer que os policiais federais façam uma espécie de pente fino para esclarecer todas as suspeitas de movimentação de dinheiro ilegal, especialmente nas empresas do Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná, sede do extinto Banco do Estado do Paraná (Banestado), alvo de uma CPI justamente por irregularidades no envio de dinheiro para fora do País. Há fortes indícios de que a Parmalat do Brasil remeteu mais de R$ 1 bilhão entre 1996 e 2002 para uma representação da Winshaw no Uruguai, utilizando as contas CC-5 (contas bancárias de pessoas não residentes no Brasil) do Banestado. O que chamou a atenção dos policiais é que as remessas foram feitas no mesmo período em que o banco intermediou a remessa de mais de US$ 30 bilhões do Brasil para o Exterior.
Preocupado com a extensão dos prejuízos que serão causados por uma possível quebra da empresa, o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), está nomeando uma comissão especial de parlamentares para acompanhar o caso Parmalat. Os deputados terão poderes para ouvir depoimentos e acessar documentos sigilosos. A Justiça de São Paulo também nomeou três administradores judiciais para acompanhar todos os atos da atual diretoria da empresa e garantir o cumprimento da liminar obtida pelo banco japonês Sumitomo, que proíbe a Parmalat de vender seus ativos no país e enviar dinheiro para a matriz e suas coligadas. O Sumitono quer receber uma dívida vencida de US$ 10 milhões. Já o Unibanco, credor de cerca de R$ 20 milhões, recebeu como garantia de pagamento a fábrica da Parmalat em Jundiaí, interior de São Paulo, onde são produzidos sucos, creme de leite, chás e biscoitos.
Enquanto a Justiça aperta o cerco, as cooperativas que fornecem leite à Parmalat estão debandando para o lado dos concorrentes (basicamente, Nestlé e Danone) para fugir de mais prejuízo. Na quinta-feira 22, três cooperativas em Goiás, duas em Minas Gerais e 11 no Rio de Janeiro já haviam cortado o fornecimento do produto para a multinacional italiana.