A vida verde vem da Vale do Rio Doce – sem o romantismo anacrônico de alguns teóricos, sem o radicalismo inconseqüente de algumas ONGs. Mas a Vale também não é uma santa diletante do verde a considerar que tudo o que nasce com essa coloração é intocável. E nem é somente uma devota da natureza a ver embevecida borboletinhas voando de uma árvore a outra. A terceira maior mineradora do planeta embrenha-se agora na epopéia de devolver o verde à Amazônia, mas de forma racional e pragmática – e acaba de apresentar o seu projeto de reflorestamento ao Ministério do Meio Ambiente. Segundo o presidente da Vale, Roger Agnelli, o plano prevê a revegetação com espécies nativas de 50 mil hectares, além do reflorestamento com eucaliptos de outros 150 mil hectares. Tem para isso o seu próprio banco genético no Espírito Santo reunindo 13 milhões de mudas de plantas nativas e 23 milhões de eucaliptos. Fruto maduro de três anos de análises e pesquisas, ela propõe mudanças na atual legislação ambiental que estipula que somente 20% da área já devastada pelas atividades econômicas sejam revitalizadas – na Amazônia a determinação chega a 80% de preservação da área natural, ainda que esteja devastada por outras atividades. “É plenamente possível regenerar essas áreas sem afetar o meio ambiente”, diz Agnelli. E, se a Vale precisava de algum sinal verde oficial para cuidar do maior verde brasileiro, esse sinal foi dado: foi total a receptividade do Ministério do Meio Ambiente ao seu projeto de reflorestamento.

As sementes do pragmatismo e da racionalidade da Vale do Rio Doce nessa empreitada estão na fala de seu próprio presidente: “Ou cuidamos do meio ambiente ou sofreremos restrições na entrada de nosso minério em mercados internacionais de países desenvolvidos que não abrem mão da preservação ambiental.” Ou seja: teme-se perder importantes clientes, como por exemplo os EUA e a China, sob a alegação de que se continua a operar motosserras e a passar a três por quatro a foice nas árvores e plantas da Amazônia. Mais ainda: como o reflorestamento não se dá por obra da própria natureza, mas sim através de mão-de-obra, o plano da mineradora será desenvolvido nos médio e longo prazos e fará brotar uma nova qualificação de mão-de- obra local. A Vale não revela quanto investirá nesse projeto, mas adianta: “Hoje dispomos de tecnologia moderna para retirar e devolver revitalizadas as áreas trabalhadas.” É na região paraense de Carajás que se concentram os seus maiores projetos. Segundo a própria companhia, “98% da área nativa é plenamente preservada.”