01/03/2006 - 10:00
Se Vinícius de Moraes estivesse vivo e andasse pelas bandas da Itália – lugar que aliás freqüentou com assiduidade –, poderia sapecar uma nova versão de sua célebre Garota de Ipanema. A nova canção seria batizada, com certeza, de Garota de Turim. Mas não é preciso ter a alma do Poetinha para se render aos encantos da carioca Isabel Clark, 29 anos, 1,67 m, 61 quilos, a atleta brasileira mais bem colocada em toda a história da ainda modesta participação brasileira nos Jogos de Inverno. Em Turim, onde espera o fim dos Jogos marcados para domingo 26, ela anda com saudades do Brasil, para onde não vem desde outubro. Mas, por enquanto, nada de voltar. Tanto que boa parte de sua família foi visitá-la na Itália. No início de março, vai para os Estados Unidos participar da Copa do Mundo de snowboard em Lake Placid. Está acostumada à vida nômade. É casada com seu técnico, o chileno Ivan Fuenzalida, e passa quatro meses do ano no Valle Nevado, treinando e dando aulas de snowboard.
Uma paixão que começou em 1994, quando visitou o irmão Leo Clark na estação de esqui da Califórnia, em Mammoth Mountain, e começou a trocar o calor das praias cariocas pelo gelo e o esqui. “Até o dia em que experimentei o esqui, nem sabia o que era aquilo, mas meu irmão já disputava competições.” Quando está no Rio de Janeiro, se dedica à preparação física e à faculdade de arquitetura na UFRJ. A arquitetura, aliás, é a profissão dos pais, João e Daisy. As pranchetas vão ajudar no esporte que adora. Ela quer construir espaços indoor para a prática de modalidades de neve no País. “Vão aparecer muitos talentos”, sonha. Outro sonho é descer a cordilheira do Himalaia e montanhas do Alasca. “Deslizar numa montanha virgem, cheia de neve fresca, é uma das melhores sensações que uma pessoa pode ter.”
Mas, no momento, ela quer mesmo aproveitar a visibilidade internacional para angariar patrocínios
de peso. Isabel surpreendeu o mundo ao ficar com
a nona colocação no boardercross, a categoria mais radical do snowboard. Sem contar que marcou o sexto tempo na classificação e superou a francesa Karine
Ruby, considerada a melhor snowboarder de todos os tempos. Foi a estréia olímpica do boardercross, prova
em que se enfrenta, numa descida radical com a prancha, quatro outros rivais, além dos obstáculos. Isabel desceu a montanha de Bardonecchia, nos arredores de Turim, a partir de uma altura de 1.595 metros, num percurso de 900 metros.
Não bastassem as atenções provocadas pelo seu feito – chegar entre as dez do mundo vinda de um país tropical –, Isabel exercita na vila olímpica a decantada afabilidade brasileira. É saudada nas ruas cobertas de neve das montanhas, a dois mil metros de altura, mesmo quando a temperatura chega aos dez graus negativos. “Os times estrangeiros vêem o Brasil com admiração, curiosidade e carinho. Quando a gente passa com a camisa do Brasil, todo mundo olha”, disse a ISTOÉ na segunda-feira 20. Olham e suplicam por um suvenir que se tornou alvo da cobiça geral: buttons da bandeira nacional.