Abrir a janela de casa e dar de cara com um congestionamento a menos de cinco metros do seu nariz. Essa é a rotina de quem mora ao lado do Minhocão, um monstrengo de concreto e asfalto que corta parte do centro de São Paulo, a oito metros de altura, beirando o segundo andar dos prédios. Inaugurada em 1971 para ligar as zonas leste e oeste da cidade, a coisa une, com seus 3,5 quilômetros, a praça Roosevelt, na Consolação, à avenida Francisco Matarazzo, em Perdizes. Ao mesmo tempo que ajudou a reduzir o trânsito no centro da metrópole, a obra decretou a depreciação de bairros como Santa Cecília e Campos Elísios. Hoje, 35 anos depois, comporta um fluxo de 70 mil veículos por dia, segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).

O Elevado Costa e Silva – como prefere o pai da criatura, o ex-prefeito Paulo Maluf – está jurado de morte. Quem tiver uma solução para os transtornos causados pelo trambolho pode retirar na Secretaria Municipal de Planejamento o termo de referência do Prêmio Prestes Maia de Urbanismo e fazer sua inscrição até 5 de abril. A melhor proposta receberá um prêmio de R$ 50 mil, a vice-campeã levará R$ 30 mil e a terceira colocada, R$ 20 mil. Até agora, não existe compromisso da prefeitura de levar adiante qualquer projeto. Mas o prefeito José Serra – que em 2004 afirmou no programa Roda Viva, da TV Cultura, não ter interesse em demolir o Minhocão – decidiu instaurar o debate. Com o recente avanço de Lula nas pesquisas, há quem afirme que ele permanecerá no cargo e iniciará a reforma a tempo de torná-la seu principal aliado na campanha à reeleição.

Parte do mérito do concurso é do urbanista Michel Gorski, que entregou a Serra, no ano passado, um pedido oficial para que se encontre uma solução para a área. Gorski quer a implosão imediata do trambolho. O trânsito que se acomode. “Quem vai de leste a oeste ou vice-versa não precisa passar pelo centro”, diz. Uma opção seria aproveitar parte do leito da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos para a construção de uma avenida, idéia já cogitada pela prefeitura, sem preço estipulado.

ISTOÉ teve acesso a duas propostas de intervenção no Minhocão que devem concorrer ao prêmio. A alternativa mais ousada foi apresentada em 2003, na 5ª Bienal de Arquitetura, por Celso Franco, professor da Universidade Mackenzie. O arquiteto prevê a construção de um túnel com traçado semelhante ao do elevado seguida de sua demolição. O projeto tem orçamento estimado em R$ 700 milhões. A inspiração vem de Boston, nos Estados Unidos, onde US$ 14,7 bilhões foram consumidos para transformar o Minhocão deles no complexo subterrâneo Big Dig.
“Aqui, a idéia também era fazer uma via subterrânea, mas o sistema escolhido permitiu ao prefeito concluir a obra antes do fim do mandato”, lembra Franco. Já o arquiteto César Bergstrom sugere cercar o elevado com paredes e teto de concreto. “Com R$ 60 milhões é possível resolver o problema”, aposta. Que vença o melhor.