O mundo está na ante-sala de um
evento definido em todas as suas minúcias para ser o maior da história esportiva: a Copa de 2006, na Alemanha. A 16ª edição desse encontro de gala do planeta futebol será disputada entre 9 de junho e 9 de julho por 32 seleções dos cinco continentes, em 12 estádios convertidos em templos da modernidade após reformas de 1,5 bilhão de euros. E, apesar da tradição da seleção alemã e de outras como Argentina, Itália e França, a estrela da festa será mesmo o pentacampeão Brasil, única seleção que jamais deu aos adversários o alívio de não participar de um Mundial. A Copa vem aí – melhor seria dizer que ela já está aí.

As disputas acirradas começaram
bem antes das que serão travadas
nos gramados. Todas envolveram muito, muito dinheiro. Numa das primeiras, esteve em jogo o direito de abrigar a Seleção Brasileira na pré-temporada européia e nas primeiras fases da Copa, em solo alemão. Ídolos globalizados, os comandados de Carlos Alberto Parreira são pólos garantidos de atração de investidores e de turistas pouco dispostos a medir gastos. Para a pré-temporada, entre 22 de maio e 4 de junho, o Park Hotel, jóia arquitetônica de toque art nouveau erguida em 1870 à beira do Lago Lucerna, em Weggis, vila suíça de 3,9 mil habitantes, levou a melhor entre 40 ofertas internacionais.

Os 34 quartos e as nove suítes do Park, único cinco-estrelas da região e um dos 453 hotéis mundiais com o rótulo Reláis & Châteaux de conforto e excelência gastronômica, são decorados pelo designer Philippe Stark e mobiliados por Molteni. O espaço abriga um jardim de meditação com bonsais centenários. A diária de um quarto duplo custa pelo menos 123 euros e o café da manhã, 21 euros por pessoa. Mas isso foi pouco para bater a concorrência. O único campo de Weggis, do time local, que disputa a quinta divisão amadora do país, precisou ser reformado. Tinha capacidade para 180 pessoas e agora pode receber cinco mil. O custo de hospedagem foi calculado em 400 mil francos suíços (cerca de R$ 700 mil), metade assumida pelo hotel e o resto por escritórios de turismo da região. Jornais noticiaram que a CBF teria recebido US$ 2 milhões (R$ 4,5 milhões) para levar a Seleção para Weggis, mas a confederação diz que o valor “não é correto”.

Depois, na Alemanha, a primeira base será o hotel-castelo Falkenstein, em Königstein, nos arredores de Frankfurt. Pertence à refinadíssima grife Kempinski. Num dos hotéis da rede, a diva Greta Garbo, deslumbrada com a beleza do espaço, disse certa vez uma frase que se tornaria histórica: “Quero ficar só.” Outra luta violenta, para oferecer a bola oficial, foi vencida pelo modelo Teamgeist, da Adidas, que emplaca seguidamente suas redondas nas Copas desde 1970. As cores branca e preta são referências ao uniforme da dona da casa. Pesa 441 gramas, tem 69 cm de circunferência e poucos gomos, o que, diz o fabricante, a torna 30% mais precisa do que as concorrentes nos chutes. Custa em torno de R$ 400 no Brasil.

Era esperado que a Copa detonasse uma avalanche de investimentos e ações de marketing. Mesmo assim, o bombardeio desperta em parte dos alemães um questionamento sobre a validade de tantos gastos. “A cidade está esburacada, mas estão fazendo jardins, enfeites, coisa de pouco alcance social”, reclamou a ISTOÉ, na elegante rua Under den Linder, que cruza o Portão de Brandenburgo, o cineasta Marcel Krüber. “Precisávamos de investimentos para melhorar a vida das pessoas no lado leste da cidade e do país, mas eles vieram para a Copa. Não foi a melhor opção”, questiona. De fato, alguns detalhes impressionam. Cada um dos 15 parceiros internacionais da Fifa colocou 45 milhões de euros e cada um dos seis nacionais, 60 milhões. Até as moedas usadas pelos juízes na definição dos lados em que cada qual iniciará a partida foram modificadas para o bem do faturamento. Não trarão os tradicionais cara e coroa, mas desenhos de uma água mineral do grupo Coca-Cola, que lançou também uma bela embalagem pet de 400 mililitros do refrigerante em formato de bola. Em todos os pontos do mundo, fabricantes de brinquedos, bonecos, roupas, bandeiras e guloseimas pegam carona no evento.

No Brasil, a Cadbury Adams investiu R$ 5 milhões e, apoiada na imagem de Ronaldinho Gaúcho, lançou o chiclete Bubbaloo Golaço. A Arcor não perdeu tempo e colocou no mercado pirulitos inspirados na competição: Big Big e Bolin Bola. Exemplos do poder do planeta futebol, uma engrenagem capaz de reunir no Fórum Mundial de Davos os presidentes da Fifa, Joseph Blatter, e do Comitê Olímpico Internacional, Jacques Rogue, o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, e o secretário-geral da Onu, Kofi Annan. E de movimentar espantosos US$ 200 bilhões (R$ 450 bilhões) por ano. Para além de um ou outro nariz torcido, merece uma festa desse porte.