22/03/2006 - 10:00
Marcos Antonio de Souza, 40 anos, é um exemplo de que as mais terríveis situações podem nos levar a melhores rumos. Preso em 2000 e condenado a 19 anos por crime sexual, ele se viu pressionado pelas dificuldades financeiras por que passavam a mulher e os dois filhos. Para conseguir dinheiro, comprou revistas e aprendeu a fazer peças de crochê. Numa das publicações, viu ímãs de geladeira feitos de biscuit. Pediu o material à mulher e colocou a mão na massa, literalmente, motivando outros colegas. Em pouco tempo, Souza transformou um quebra-galho numa empresa que emprega 158 detentos e produz um milhão de objetos decorativos, ímãs de geladeira e trabalhos de marcenaria. “O trabalho e a criação fazem o preso retomar valores que perdeu. O reflexo disso se vê na boa disciplina”, analisa Cássio Ribeiro de Campos, diretor da Penitenciária Doutor Antônio de Souza Neto, a P2 de Sorocaba (SP), onde Marcos trabalha.
Além de tino comercial e espírito de liderança, o presidiário empreendedor teve um empurrãozinho da Fundação de Amparo ao Preso(Funap), da Secretaria de Administração Penitenciária de São Paulo, que promove a inserção dos presos no mercado de trabalho. “Ele estava numa longa fila de espera por emprego. Acabou tomando a iniciativa e foi reconhecido”, explica José Adão Neres Jesus, gerente da Funap.
A empresa, aberta em nome da esposa de Souza, funciona junto com fábricas de abrasivos, canudinhos, plástico reciclado e móveis. O piso de remuneração é um salário mínimo e, a cada três dias trabalhados, eles descontam um na pena. Recebem por produtividade ou salário fixo – 65% vão para o bolso do preso, 25% são entregues à penitenciária para pagar mão-de-obra indireta (cozinha, limpeza, etc.) e 10% remetidos para uma poupança em nome do funcionário, a ser sacada na saída da prisão. A vantagem para o empregador é que este tipo de mão-de-obra é regida pela Lei de Execuções Penais, o que o desobriga de pagar 13º salário, férias, previdência social e Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Enfim, um bom negócio para todos.